A FLOR E  SEU  MARINHO!

A FLOR E SEU MARINHO!

Marinho. Um nome apenas. Não imaginava nunca que ele tivesse outro nome. Ou outros. Lembro-me que todo dia ele passava na sua bicicleta de pneus finos pelas ruas do meu bairro Jaguaribe. A coluna ereta. Empertigado. Era  Seu (“seo”?! Tudo bem.) Marinho era um homem resumido num paletó e uma flor na lapela.

Não raras vezes era flagrado sorrindo. Gentileza gerava gentileza. Era gentil Seu Marinho. Todos gostavam dele. Mas afinal o  que fazia aquele homem sempre de paletó e flor na lapela? Não sabia. Também não havia qualquer interesse em saber naquele menino-jaguaribe. Mas achava bonito e elegante aquele homem desfilando – isso mesmo,  desfilava! – pela minha rua em sua bicicleta de pneus finos.

O tempo passou e somente passado esse tempo  descobri que além de Marinho ele tinha mais nomes. Manoel e Falcão. Pronto, finalmente, disse para os meus botões hoje mais carne do que osso, agora ele tinha um nome completo: Manoel Marinho Falcão. Pausa. Nem precisava. Pois esses outros nada acrescentariam aquele homem magro como a sua bicicleta.

Soube também que morava na Rua do Matanegro (Meu Deus!). Pausa. Que rua seria essa? Saberia mais tarde: a nossa Cardoso Vieira. Seu Marinho trabalhou na Secretaria de Saúde do Estado. Soube Também. Era responsável pelas vacinas da moda. Antirrábicas e antivariólicas. Mas, antes de tudo, bom que era Seu Marinho, especializou em quase tudo. Até mesmo em testes de gravidez!

Outro fato interessante soube sobre o nosso Marinho: nunca atirou Férias em 45 anos ininterruptos de serviços prestados à Secretaria da Saúde do Estado! Ora, mas para que férias? Se ele gostava tanto do que fazia e fazendo o que gostava estava sempre de férias do trabalho?

Era assim essa figura que por muito tempo foi uma doce referência do meu bairro Jaguaribe. Seu Marinho tinha tudo para ser o inventor dessa medicina que ainda não chegou por aqui em que os médicos são amigos dos pacientes e visita esses paciente em suas próprias casas. Não era um “doutor” em visita, mas um parente!

Um Homem muito de muitas atividades era Seu Marinho.  Além de bom enfermeiro era um artista. Pintava e bordava! Ou melhor: era pintor, violonista e chargista! Um artista múltiplo! E a flor na lapela? Essa que ele fazia questão de carregar? Todas “roubadas” nas casas de seus pacientes?

Finalmente, anos mais tarde, o segredo seria revelado: Seu Marinho carregava a flor (quase sempre uma rosa) como símbolo da irmandade de que fazia parte! Seu Marinho era “Rosa Cruz”! Tanto que antes de trocar de roupa e se mudar para outra cidade, aos 83 aos, “Rosa Cruz” exemplar, Seu Marinho foi agraciado com uma comenda da irmandade vindo direto de sua – dela, da irmandade – sede, em Curitiba!

Uma honra! A flor que Seu Marinho usou em sua passagem por esta cidade ficou para sempre marcada na sua história! Nada de a “Flor e o Espinho”! Seu Marinho fez com que os jaguaribenses, esses em especial, associassem essa Flor a Marinho! Era como se fossem irmãos siameses! Um não poderia viver sem o outro!

Seu Marinho, o bom enfermeiro do meu bairro, era essa flor em pessoa!

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