ABUNDA DANÇARINA NA ALA AMARELA DOS SALÕES DA VIDA!

ABUNDA DANÇARINA NA ALA AMARELA DOS SALÕES DA VIDA!

A moça que não dançou na boquinha da garrafa dentro da Ala Amarela de um hospital público foi demitida. A moça não poderia rebolar do jeito que rebolou.  Rebolar para viver, tudo bem,  ela já rebolava. Mas ali é proibido. Disseram  que aquele lugar não é ambiente de descontração.

Passei uns dias com um filho hospitalizado.  Hospital particular. Tudo regiamente pago. Ele saiu de lá tenso. Clima de hospital é tenso. Mas esse tem uma médica – essa em especial – fazendo-o  mais tenso ainda. Um hospital mais frio ainda. E ninguém apareceu para “descontrair” o ambiente. Nenhuma enfermeira fez o impaciente pai, pensando no paciente filho seu, sorrir com uma dança da bundinha. Seria um prazer.

Não sei o salário da moça que foi posta para a rua porque balançou a bundinha na Ala Amarela do hospital.  Não deve ser lá essas coisas. Mas não é o salário dela o mérito aqui desta mal-traçadas. O fato de ter sido posta para rua porque rebolou a bundinha onde não devia. A Ala era Amarela? Menos mal. Infelizmente a moça não viu o sinal vermelho no amarelo da sala.

Mas não achei que fosse motivo para a moça que rebolava perder o seu emprego.  Mas confesso que gostei. Depois de saber que perdera o emprego ela ponderou que por isso não iria perder a sua – dela – alegria de viver. Ah, essa ninguém tiraria dela! E não tirarão mesmo. A sua – dela – alegria é tatuagem no corpo e na alma.

A moça que rebolava numa defesa simples e sem embargos infringentes disse apenas que a dança era sua válvula de escape. O seu trabalho era tenso, cuidava de vidas e temia pelas vidas que cuidava. Todo dia. Todo o dia. E isso a deixava tensa. Muito. Assim, dançar seria como soltar os espíritos dos mortos que passaram por ela. Aliviar-se um pouco dos muitos que com ela  ficaram. Pois, mesmo não sendo esses conhecidos seus, deles se afeiçoara.

A moça que balançou a bundinha sem quaisquer outras intenções que não fossem libertar a tensão que carregava com ela está na rua. Não sei quem que foi para rua com ela.  Se filho, irmã, sobrinho, namorada, companheiro, pais… Ela não foi sozinha. Agora, duvido que muitos não sorriram com a dança da bundinha na Ala Amarela do hospital público. Duvido.  Uma coisa, porém, todos ficaram sabendo: a moça da Ala Amarela foi a única a dançar de verdade.

Se me fosse dado o direito de julgá-la, não faria a moça dançar no seu trabalho. Pois a dança na Ala Amarela não deixou que outro só ou acompanhado, dançasse nesse intervalo. Tenho a certeza que, se perguntados, os pacientes responderiam que sorriram com a dança da moça. Nada mais do que isso.

Dançar no trabalho é o trabalho de muitos. A moça também sabe disso. Dançar naquela ocasião, porém, não era o trabalho dela.  Ela sabia. Ora, mas a moça queria dançar e dançou! E não soube até agora de algum paciente que perdeu a paciência ou a vida com dança dela. Uma advertência seria o suficiente.  Não dance mais no trabalho. Fim de papo.

Falta de respeito? Nada vi. Ética ou coisa que o valha? A moça não sabe o que é isso. E ela  soubesse, dançaria mesmo assim. E também  assim como este malabarista de palavras não veria essa pequena falta onde falta alegria e sobram lamentos, onde a esperança vacila entre um passo de dança e outro. Pronto. Não mandaria a moca da Ala Amarela dançar na rua.

Talvez a moça da Ala Amarela merecesse uma punição se tivesse errado o passo da dança. Não errou. Por isso mesmo dançou. A gente não controla a vontade de nossos pés quando esses querem dançar, bailar pelos salões do mundo, da vida.  No caso da moça da Ala Amarela foi a bunda. A bundinha. Mas balançar a bundinha no ritmo do coração e da alegria não é crime, meus amigos, nunca será! Não faz mal a ninguém. Nunca fará.

Mas dançarina como a moça do Ala Amarela, todos sabem, abunda por aqui. Existem muitas. E, no caso dela, a bunda foi a culpa. Ou melhor, a  bundinha. Pausa. Mas não faria dançar a moça da Ala Amarela somente porque fez dançar a bundinha e agradar a tantos como eu.  Todos sorriram. Mas, infelizmente, somente ela dançou.  Infelizmente.

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