ANCO…nteceu!

Às vezes ou vez em quando, por aí, lembro-me dele dizendo “Em saúde eu tiro nota dez. A única em que tenho uma nota menor é a tireoide”.

 Sabia que essa “glândula endócrina”- sabia tudo sobre ela – o deixava cada dia mais gordo. A dificuldade de andar era visível por fora. Por dentro, dizia, ia levando.

 Não raras vezes nos encontramos em sua casinha, ali bem ao lado do Estádio Almeidão. Fazia-me sempre um desafio de “escrevinhadores”: “Vamos começar a fazer Picles?!”.  

 Picles, para os poucos que nãos sabem, são frases bem humoradas em pílulas. Por aí, não tenho outro definição no momento. Um craque. Ele era nessa área. Camisa 10.

 Sempre o tive como um dos artistas mais versáteis e criativos da nossa história. Falei nossa, mas ele ia além. Um dia escreveram que ele seria o sucessor de Millôr Fernandes. Não foi. Era sempre ele. Foi.

 Outro dia, aqui vale a lembrança, esse bem distante, no terceiro ou quarto número da gostosa e inesquecível Revista Bundas, essa que teve vida breve, infelizmente, Ziraldo, o editor, gritou num canto de pagina “Por onde andas, Anco Márcio?!”.

 Era um convite público ao nosso melhor texto de humor de todos os tempos. Aqui, no caso, das terras Parahyba.  “1berto, dá um pulo aqui! Quero te mostrar uma coisa arretada!”. É claro que, assim que tivesse um tempinho, responderia presente. 

 Tinha mais: antes mesmo de publicar muitos de seus ótimos textos, enviava-me os originais, e perguntava se havia gostado. Sempre gostava. Ele, satisfeito, insistia: “Gostasse mesmo?!” E eu: “Arretado!” Pronto. Estava aprovado.

 Tudo isso em respeito a nossa amizade/criatividade bem-humorada. Mas ele fazia assim como quem dissesse “Estamos juntos!”. Achava legal.

 Ouvi muitas vezes de sua boca que nunca perderia uma piada, mesmo que perdesse o melhor amigo. Mas, afinal, perguntei-lhe um dia, sorrindo, se ele tinha mesmo um melhor amigo.  Sorria também.

 Um cara bom, apesar de muitos não gostarem dele. Sabia disso. Nem ligava.  Uma coisa, porém, ele sabia mais do que ninguém: se muitos não temiam a sua língua, temiam a sua escrita. Sei de muitos. Nesse campo ele era imbatível.

Outro dia conto mais sobre ele. Afinal, fizemos juntos Jornal, roteiros para documentários (tínhamos um prontinho sobre Livardo Alves e outro para Chinelo, meu personagem preferido), letras e outras e outros.

 Um dia conto mais.

 

 

 

 

 

Por Anco Márcio – em 18/12/2008 às 08h35

-Diplomado em Artes Cênicas e Psicologia

-Jornalista e radialista há 50 anos

-Ator de vários filmes, um deles dirigido por Glauber nos anos 60/70.

-Único humorista nordestino a ter página no Pasquim

-Redator de humor da Tupi

-Diretor Artístico da Tupi

-Redator de Os Trapalhões

-Criador do Edição Extra, o Pasquim da Paraíba.

-Prêmio de Melhor Ator no Festival Nacional do Estudante

-Prêmio de Melhor Ator, Melhor Diretor, em Diário de um Louco de Gogol em São Paulo.

-Ganhador de vários Prêmios de Reportagem em João Pessoa

-Ganhador do Prêmio de Poesia sobre a Consciência Negra do MEC.

 

Em tempo: Anco Márcio trocou de roupa e foi morar noutra cidade no dia 22 de junho de 2013