Tenho andado e pulado e escapado das pragas de urubu. Mas, praga de urubu, vocês sabem mesmo onde pega. Pois bem. Os meus inimigos, porém, que graças a Deus se os tenho são poucos, fiquem sabendo: acredito em urubus, em pragas não.
Pois é. Tenho corrido, assim como Paulinho da Viola, buscando meu lugar no futuro. O meu futuro? Ora bolas! Sou um sujeito do meu tempo, e o meu tempo é aqui e agora. Conclusão: meu futuro é hoje, e o melhor lugar do mundo, sem lembrar o Gilberto Gil, é aqui e agora. Portanto, sou (se cogito… ergo o quê mesmo?) um sujeito que pensa, mas não pensa no próximo dia nem vive a lembrar o dia de ontem. Sempre estarei mais para cigarra que para formiga.
Nessa corrida, como adiantei, sem muitas vezes saber direito porque estou correndo nem onde quero chegar, por acaso – não acredito nesse – caiu em minhas mãos, presente de uma colega de sala, o livro de Lições de Viver, do escritor, jornalista, cronista e professor Carlos Romero, editado nas oficinas gráficas da vetusta A união, lançado no ano passado (estávamos em 2006).
O nome Carlos Romero? Conhecia. Vez por outra, passando a vista apressada em busca de algo que melhorasse esse futuro do qual falei aí em cima, encontrava-o nesse jornal, digo, A união. O homem, o pensador, o “cronista do bem” ainda não. Mas, considerando que a obra fala pelo autor, fui descobrindo que Carlos Romero sabia falar como poucos sobre a vida e as suas coisas, isto é, as coisas da vida.
Outro dia, sentado no banco do barco que boia (BBB?) em minha ilha, peguei o seu – dele – Lições de Viver, assim sem querer mas querendo, fui navegando pelas suas – do livro – páginas, vagarosamente, sem pensar em transformá-las em quadros desenhados que nos dão a impressão de movimento, e descobrindo que Carlos Romero é um cronista tão bom – considerando os temas que aborda – quanto um Carlinhos Oliveira, hoje escrevendo no Jornal do Céu, ou um Fernando Sabino, o seu mais recente contratado.
Não li o livro todo, confesso, mas, pelo que li, uma certeza ficou: Carlos Romero, assim como os velhos vinhos, está cada vez melhor. E olhem que dizem que de leitura, quase abstêmio que sou, entendo mais do que vinho! A leitura do seu Lições de Viver é gostosa como um daqueles vinhos do Porto, depois de anos de envelhecimento em barril de carvalho, no primeiro gole.
Os bons cronistas nunca fazem de seus escritos uma charada para o leitor decifrar. O Jogo da Amarelinha? Não, Cortázar era mais que um cronista, e o seu anti-romance mais que um jogo. Os bons cronistas não entram nessa “partida”. Esses, os bons cronistas, falam sem o compromisso de fazer literatura. Se uns dizem ser superficiais, não implica dizer que não podem ser profundos. Nenhuma dúvida: Carlos Romero é um cronista do bem, muito bom, escrevendo muito bem e fazendo um bem danado de bom ao seu leitor.
Agora, pulando – as pragas, as pragas – e cantando e seguindo em frente, mas fazendo canções, não poderia terminar estas mal-traçadas sem mostrar aos poucos leitores meus, o estilo – será sempre o salário – e a beleza desse “cronista do bem” em seu Lições de Viver, nesse pedacinho de crônica intitulada de Lição de Viver:
“Pensando bem, haverá maior lição de morrer e de viver do que o sono nosso de cada dia? Um homem dormindo é um homem morto que respira. Os olhos estão fechados, a boca aberta, o corpo imóvel … poucas horas depois, ei-lo de volta, na vertical, pronto pra continuar a caminhada diária da vida”.
Belo, não? Eu, particularmente, achei mais que isso: belíssimo!
Em tempo: um putabraço desse sujeito que aprendeu a viver morrendo todas as noites. Ah, aproveito para lembrar aos dois leitores meus, como se pode ver, que estas mal-traçadas foram escritas no ano de…2006! Pausa. Acho que melhorei um pouco (risos)
Em tempo outro: Estarei deixando este espaço, o Facebook, por um bom tempo. Vou cuidar de mim (risos) apenas no humbertodealmeida.com.br. Visitem-me (risos)!