Autores reais, livros imaginários

Autores reais, livros imaginários

Certos autores existem e são reais; certos livros não existem e são imaginários. Esses autores poderiam muito bem escrevê-los. Por exemplo: W. J. Solha, valendo-se da vastidão e da variedade de suas leituras, possui engenho e arte para escrever uma “Anatomia invertebrada das falsas citações” ou um “Dicionário bilíngüe das afinidades eletivas entre o bancário, o ator, o pintor, o escritor e o cineasta”.

Acilino Madeira me parece reunir todo o potencial para escrever acerca dos valores agrícolas e climatológicos que subjazem à economia dos poemas agrestes de H. Dobal. Sugiro-lhe o seguinte título: “Algarismos e porteiras nas estradas líricas das serras e confins do Piauí”.

Vitória Lima, utilizando sua veia poética, deveria contribuir com a elaboração de uma “Antologia dos arvoredos e das brisas do Miramar” ou com uma “Pedagogia epifânica da quarta-feira de fogo”.

Otávio Sitônio Pinto, cujo talento destabocado beira a genialidade de um Inácio da Catingueira de mistura com Rabelais e Miguel de Cervantes, poderia se socorrer de suas pesquisas científicas e literárias, para escrever o “Lunário perpétuo das úmidas omoplatas da Serra de Princesa!”.

Nessa empreitada, Paulo Mariano e Aldo Lopes de Araújo, no posto de capatazes cognitivos, coordenariam os discípulos na tarefa didática de fixar notas e verbetes dessa missão e obra sagradas.

Tarcísio Pereira, por sua vez, só será imortal, quando escrever a “Odisseia do povoamento, da violência e das perversões sexuais de Teodósio de Oliveira Ledo nos sertões da Vila de Pombal e adjacências”.

Edônio Alves Nascimento, em outra clave, revela talento suficiente para dar a lume a “Gramática expositiva dos lances poéticos e dramáticos do futebol”, pois, além de tratar a redonda com fineza e carinho, nos tempos míticos do Sagarana Futebol Clube, é o único doutor no assunto do Nordeste.

Evaldo Gonçalves, no alto de sua encanecida e maturada experiência, está a nos dever, além do “Pequeno manual de oratória, boutades, idiossincrasias e generosidades do amigo velho”, a tão esperada “Cartografia dos fantasmas do Cariri e do lendário secreto de Pai Sumé”.

William Costa tem dado sinais de que pode organizar, em letra impressa, uma espécie de “Mitografia armorial do grotesco e do sublime nos vales do Espinhara e do Pajeú”.

Por fim, Martinho Moreira Franco, detentor de uma pena feita de aço e luar, como o verso de Juan Ramón Jimenez, é o indicado para escrever o “Cronicário dos ipês, acácias e palmeiras de Philipeia de Nossa Senhora das Neves”.

Só assim, a minha estante paraibana ficará completa!

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Um comentário

  1. Eu topo, Humberto. E topo, também. produzir os livros dos outros, se ninguém se habilitar.
    Maravilha como você é cheio de ideias!

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