CADÊ O CHEIRO DE CINEMA DO MEU JAGUARIBE ?

CADÊ O CHEIRO DE CINEMA DO MEU JAGUARIBE ?

Faz muito tempo que não vou ao cinema. O último filme a que assisti em tela grande, se essa memória brincalhona não me prega mais uma peça, foi Chocolate. Um filme que, para não deixar nenhuma dúvida no ar, nada tem a ver com o cantor (?) ou aquele ex-jogador do Botafogo da Paraíba com quem bati ainda algumas boas peladas.  O filme tem tudo a ver com essa guloseima apaixonante e consumida no mundo todo por gente de todas as raças e religiões

A história de Chocolate, o filme, é chata e já foi contada em muitas novelas globais.  Comum como as músicas do Reginaldo Rossi e insossa como os livros do Paulo Coelho. O enredo? O sujeito chega a uma vila ou cidade do interior e com o seu carisma ou trabalho conquista a todos e muda o rumo de suas vidas. Uma besteira? Acho. Uma “festa” como muitas a que eu já assisti.

Não me lembro mais de Chocolate. Lembro-me e , aqui faço questão de registrar, da mágica do cinema. As três badaladas. O fechar das cortinas. Os gritos empolgados da uma platéia com olhos de sentinela. O leão da Metro rugindo e levando o nosso medo a quilômetros de distância. A imagem de um Maracanã tomado por Arquibaldos e Geraldinos e uma platéia delirando e esperando o “que bonito é” na cadência de um samba.

Ah, e o cheiro? Não era de pipoca nem de chicletes e balas de hortelã. Era cheiro de cinema! Isso mesmo: o cinema tinha um cheiro que hoje infelizmente já não sinto mais! Um cheiro que não entrava somente pelas narinas, mas por todo o corpo! Um cheiro forte e bom! A impressão que deixava era a de que em casa, por maior que fosse o tempo que passasse debaixo do chuveiro, aquele cheiro, o cheiro de cinema feito tatuagem me acompanharia por toda a vida!

Essa lembrança do “cheiro de cinema”, agora sozinho no meu quarto, por mágica ou plástica feita enquanto eu dormia para a retirada da tatuagem, no limitado espaço da tela do meu televisor não existe mais! Inspiro, insisto, não desisto! Tudo, porém, debalde! O meu quarto não é um cinema nem o aparelho de DVD aquela máquina que o Totó sonhava um dia aprender a manipular com o insuperável Alfredo do Cinema Paradiso! Uma pausa.

Nessa pausa, com a parada do DVD – assisto, agora, pela segunda vez, A Felicidade Não se Compra, do impagável (ou seria “incomprável”?) Frank Capra, aproveito para ir ao banheiro ou tomar um suco de laranja. Acaba toda a magia! Ou melhor: impede a busca daquele cheiro que no escurinho do cinema ao lado da primeira namorada um dia senti! O fio de Ariadne é partido e, ao contrário do que eu mesmo esperava, não me perco no caminho de volta! Estou no meu quarto e não no cinema! É o fim!

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