Jair Amorim

Dom Cardoso

O Cearense e o capixaba que apaixonaram o Brasil.

Nascido em Leopoldina (ES), no ano de 1915, o capixaba Jair Amorim jamais imaginou em fazer sucesso na radiofonia brasileira ao conhecer o cearense Evaldo Gouveia. Juntos, eles criaram a composição ‘Sentimental Demais’, imortalizada na voz do mineiro Altemar Dutra, que galgou os patamares da glória com esta canção.
Aos 13 anos Jair já havia criado uma modinha em espanhol, que ele mesmo saia cantando no colégio onde estudava – o Internato São Vicente de Paulo. Ninguém entendia, mas a melodia era bonita e a letra se espalhou pelo colégio, sendo cantada por todos. Sem saber, Jair concretizou seu primeiro sucesso musical, tendo os coleguinhas como ardorosos fãs..
A perda do pai, aos 15 anos, o forçou a largar os estudos. E ele iniciou sua vida profissional no Diário da Manhã, em Vitória (ES), como cronista social, crítico de teatro, de cinema e revisor de textos. Para sobreviver, improvisou-se como jornalista e radialista, atuando em diversas modalidades. Em 1940, foi locutor e dirigiu alguns programas na Rádio Clube do Espírito Santo, começando a escrever letras para carnavais. Um ano depois, mudouse para o Rio, onde escrevia para a revista Carioca. Já locutor na Rádio Mundial, conheceu o compositor e pianista José Maria de Abreu.
Jair foi se integrando nas rodas de compositores e boêmios, o que lhe rendeu uma parceria com o sambista Dunga. O fruto composicional desta dupla estourou com ‘Conceição’, o maior sucesso na voz de Cauby Peixoto, em 1956, e Alcyr Pires Vermelho (‘Se Alguém telefonar’) no ano seguinte. No início de 1950, quando entravam na moda os conjuntos vocais, um grupo desta modalidade musical despontava no Ceará. Surgia o Trio Nagô, sendo um dos integrantes Evaldo Gouveia, também violonista e melodista. O Trio Nagô agradou muito ao se apresentar na Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Evaldo Gouveia, que o fundou com o nome de Trio Iracema, nasceu em Orós (CE), em 1930.
Aos 19 anos já tocava em conjuntos, e as músicas de Jair Amorim lhe despertavam a atenção. Percorrendo programas de calouros e arrebatando prêmios como cantor, já sentia que seu prestígio aumentava e podia se dar ao luxo de cantar na Ceará Rádio Clube as músicas da dupla Jair Amorim-José Maria de Abreu. Formado o Trio vocal (Iracema) Nagô, em 1950, o grupo fez carreira se apresentando pelo Brasil e exterior durante 12 anos. Sucessos que foram surgindo após 1957. Gouveia compôs em algumas parcerias com Gilberto Ferraz (‘Deixe que ela se vá’), Pedro Caetano (‘Eu e Deus’) e Almeida Rêgo (‘A Noite e a Prece’ e ‘Pior pra Você’).

Parceria nasceu de uma troca de elogios

Jair Amorim era secretário e diretor da UBC – União Brasileira de Compositores – quando conheceu Gouveia, que tentava se filiar à associação em 1958. Após uma troca de mútuos elogios, naquele momento se iniciou uma das parcerias mais famosas da MPB. A primeira de uma lista de 150 composições (na maioria sambas-canções em ritmo de boleros).
E foi o samba-canção ‘Conversa’, gravado por Alaíde Costa, em 1959, o primeiro LP da cantora. A partir de 1962, conta-se o primeiro grande sucesso da dupla Jair e Evaldo: ‘Alguém Me Disse’, gravada por Anísio Silva. Incontáveis sucessos na voz de Miltinho, com ‘Poema do Olhar’, e Morgana, com ‘E a Vida Continua’, mais tarde regravada com sucesso por Agnaldo Rayol.
Evaldo e Jair foi a dupla que mais fez sucessos no Brasil, dentro da MPB. Não eram clássicos, e sim canções que mexiam com o que o povo sente: roedeiras, paixões, queixas, traições, ciúmes. Antes de conhecer Gouveia, Jair já entrosava valsas com o amestro e compositor de valsas José Mária de Abreu. Esta dupla foi buscar nas canções mexicanas do cantor Lourezo Pacelata a versão brasileira de Maria Helena, projetada nas vozes dos maiores cantores brasileiros da época.
O brasileiro Dick Farney, também ator de cinema – como seu irmão Cil Farney – gravou ‘Alguém como Tu’, em 1952. Sendo o maior letrista da época em que viveu, Jair fez a letra de ‘Maria dos Meus Pecados’, com a participação de Dunga e interpretação, também, de Dick Farney (1957). Antes (1953) ele letrou ‘Aperta-me em Teus Braços’, com música de José Maria de Abreu. Depois, veio outro estrondoso sucesso desta dupla: ‘Ninguém me Pergunte’. Por hoje é só.

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