Luiz Vieira

Cantor-compositor Luiz Vieira, de Caruaru, viveu a infância no Rio de Janeiro, sem perder o contato com sua origem
Hilton Gouvêa.
Há uma semana, o Brasil perdeu uma das maiores vozes, o cantor-compositor Luiz Vieira, um pernambucano de Caruaru (PE), que viveu toda a sua infância e idade adulta no Rio de Janeiro, sem perder as raízes de sua origem nordestina. Ele morreu no dia 16 deste mês, no Rio de Janeiro, deixando uma saudade infinita em meio aos seus inúmeros fãs. O autor de “Menino de Braçanã” e “Paz do Meu Amor” – dois inegáveis sucessos musicais, por ele gravados, respectivamente, em 1954 e 1963 -, foi batizado como Luiz Rattes Vieira Filho, uma homenagem ao avô. “Os biógrafos não deixam claro a origem do sobre nome teutônico Rattes, no Registro Civil de um dos maiores cantores do Brasil”, explica o advogado, pesquisador e musicólogo José Alves Cardoso, o Dom Cardoso, que estuda a vida de ídolos da MPB há mais de 40 anos. SESC-São Paulo D. Cardoso, entre outras preciosidades biográficas e literárias, que falam sobre as vidas de celebridades, é dono do livro “A Música Brasileira deste Século Por Seus Autores e Intérpretes”. É nele que Luiz Vieira concede depoimentos pessoais, gravados nos anais do SESC-São Paulo. Ele fala de dois cantadores paraibanos, Inácio da Catingueira e Lourival Batista. Para Ele, “foram excelentes cantadores e repentistas, muito imitados e pouco igualados”. Sobre o Cearense Cego Aderaldo, Dom Cardoso, que também nasceu no Ceará, conta uma ideia interessante: Desenho Gato Felix “Aderaldo ganhou uma dessas máquinas de filmar de oito milímetros. Aí, ele passava Mickey Mouse, Gato Félix e outros desenhos na Praça do Ferreira, no Centro de Fortaleza. Quando o público estava ligadão na cena, e o número de gente era razoável, o guia avisava a Aderaldo. Então, ele mandava desligar a máquina e passava o chapéu, e só continuava a fita se o dinheiro arrecadado fosse o que ele calculara”. “Outra vez, uma alma bondosa colocou 100 mil réis no chapéu”. Cego Aderaldo, estrategicamente avisado pelo guia, improvisou um verso: “Quando For à minha terra/ Terá tudo meu patrão/ O senhor tem galinha assada/ E na farta tem capão/ Terá uma mulher para lhe servir/ (Aí parou um pouco para pensar) e esclareceu: Numa coisa, noutras não”. O pesquisador também narra o encontro de Luiz Vieira com Zé do Norte, o paraibano de Cajazeiras, que criou a trilha sonora de “Mulher Rendeira”, para o filme “O Cangaceiro, Lima Barreto. Mais tarde este filme foi vendido para a Colúmbia Pictures e repassado na Europa, permanecendo cinco anos em cartaz, apenas na França. “Zé do Norte deu a primeira oportunidade a Luiz Vieira. Ele ia todos os dias ao programa do paraibano, na Rádio Clube do Brasil (RJ). Um dia os cantores que participavam deste programa fizeram greve e não foram. Zé do Norte ficou ciscando de raiva no ar. Zé do Norte olhou com mais atenção para Luís Vieira e exclamou: “Cara, tu vais vencer porque és teimoso como eu”. Daí em diante Vieira passou a secretário de Zé do Norte, lendo notinhas de batismo, aniversário e casamento no programa e, com sua voz grave, vez por outra entoava uma de suas composições”. Augusto Calheiros Após aprender algumas dicas vocais com Augusto Calheiros, Vieira ainda não tinha conseguido fixar um cachê. Foi quando o dono da bebida Sagres, um dos patrocinadores do Programa de Zé do Norte, pagou-lhe 100 mil réis, por uma quadrinha musicada: “O Poeta faz quadrinha/Os santos fazem milagres/O padre diz Ladainha/Quem bebe diz: quero Sagres? Bota uma gota aí”. Em seu depoimento aos anais do SESC-São Paulo, segundo D. Cardoso, Luiz Vieira foi fazer um show no Play Boy Club de Nova Iorque. Lá, dava muita gente de todo o mundo, principalmente da Europa. Vieira cantava, mas o público nem ligava. Então, ele se valeu de Padim Ciço (lembrando suas raízes nordestinas) e começa a cantar “Mulher Rendeira”, de Zé do Norte. Foi quando o público vibrou e ele constatou a força que esta música tinha no exterior.

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