MAMÃE EU NÃO QUERO IR À CUBA!

MAMÃE EU NÃO QUERO IR À CUBA!

Bons tempos aqueles em que eu ouvia o dengoso Caetano Veloso com inveja da Carmem Miranda rebolando os quadris, fechando os olhinhos, como diria o preguiçoso Caymmi, e cantando “Mamãe Eu Quero Ir à Cuba”.

Também queria ir. Não para ver o Fidel de Castro que já naquela época quando discursava ou matava os cubanos pelos ouvidos com os seus longos os seus discursos ou de tédio.

Ouvia dizer aonde chegava que Cuba era o melhor lugar do mundo. Não tinha ainda essa história boba do Gilberto Gil de que o melhor lugar do mundo era aqui e agora. Era a Cuba do rum e da rumba. Se eu fosse à Cuba, pensava, desistiria do “à” craseado, trocá-lo-ia pelo “para”, porque Cuba era o sinônimo de Paraíso. Quem vai à Cuba, não deseja voltar.

E enquanto olhava à famosa foto que o Alberto Korda sem querer conseguiu fazer do Che Guevara, estampada na camisa dos estudantes que passavam, a vontade de ir à Cuba aumentava ainda mais.

Se não pedia à mamãe era porque ela não sabia onde Cuba ficava. Sequer sabia se existia. E, além do mais, tinha medo de me deixar ir sozinho.

Era a foto no peito e nas mãos o livro de sua luta (nossa, dizia orgulhoso!) em Sierra Maestra. As palavras eram pronunciadas com a língua de cigarra em serenata e terminava sempre com o barulho daquelas bombinhas chilenas que musicavam antigos São João.

Não sei se o Caetano Veloso foi algum dia “las Isla”. Se foi tudo bem. E, se não foi, tudo bem também. Uma verdade tropical. E se não foi porque Dona Canô não deixou, o problema é dela. Da ilha não, de dona Canô. Ou mesmo dele.

Mas tem ainda algumas coisas, poucas na verdade, que continuo admirando na Ilha de Fidel. A revolução cubana, por exemplo, cumpriu o seu papel. É um fato. Mas Fidel envelheceu e espalhou o seu envelhecimento por todos os lados. É hora de novas lideranças e mais liberdade.

Sei que muitos não irão concordar. Um direito deles. Esse mesmo direito que, se estivessem em Cuba, não seria permitido. Fidel não deixaria.

Faz tempo que deixei no passado aquele menino que sonhava um dia, com a permissão de sua mãe ou sem, em ir à Cuba. Não quero mais! Não tenho mais vontade de visitar a Ilha que foi de Fidel. Hoje, todas às vezes que encontro alguém que me fala sobre Cuba sem os olhos – e o olhar – de turista, a Ilha fica muito mais distante do meu desejo. Assim aconteceu com um poeta.

Outro dia, relendo uma entrevista do poeta cubano Raúl Rivero (estou acabando de ler o seu mais novo livro, “Provas de Contato”. Depois eu conto), sem dúvidas o maior poeta da Ilha, hoje exilado na Espanha, foi que Cuba passou a ser mesmo apenas uma fotografia, sem doer em nenhum momento, na parede da memória.

Pois é, leiam e meditem sobre as palavras do poeta, que faço questão de transcrevê-las, e me respondam: você gostaria de ir a essa Cuba?

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