Quinta-feira. Mês de julho. Ano de 2016. Mais da metade. Ah, do ano! Dia 21. Lembrei-me do Jurandy do Sax. Não sei por onde ele anda. Por onde andará ? Não sei também se continua tocando o insuportável “Bolero de Ravel”. Não era esse Bolero “insuportável”. Tornou-se! A repetição faz isso. Mas nada contra o Jurandy. Menos ainda contra o Ravel. Menos que nada? Por aí.
Aqui . Agora. pensando. Sempre. Caminhando e quase nunca, enquanto caminho, cantando. Silencioso. Nesse exato momento não caminho. Escuto o Concerto de Aranjuez, do Joaquim Rodrigo. Entre esse e o Bolero que o bom Jurandy levou a condição de insuportável, pelo menos para este malabarista de palavras, vou sempre preferir o primeiro.
Todos sabem, Se não, apesar de não ser tão interessante assim, deveriam saber . Quando o espanhol compôs a sua – dele – obra, o Concerto, disse que o seu desejo era o de que ela fosse uma coisa boa e desse prazer a quem ouvisse a dita cuja. Se conseguiu? As duas coisas: a obra é muito boa, e dá um prazer danado de ouvi-la,
Se na opinião desse pobre e mortal consumidor de arte o concerto que o Joaquim Rodrigo fez para Aranjuez pega bem melhor que o “exercício musical” do Ravel? Não tenham dúvidas! Não tenho. A repetição é mortal. Nem os poemas do Quintana, meu poeta preferido, declamados todos os dias, repetidos, os ouvidos não aguentariam e o saco poético estaria cheio logo nos primeiros versos!
Uma quinta-feira meio assim. Verdade. E, por favor, não me perguntem o porquê desse “meio assim”. Assim (to sabendo), para tentar sair desse meio, estou aqui matutando sobre a questão levantada outro dia a respeito do recorde – haja besteira! – do sem graça Jurandy na execução do Bolero de Ravel.
Fosse eu o dono daquele bar que não mais existe, segundo o próprio Jurandy do Saco, ou melhor, do Sax, lembrando aquela história contada pelo “Sacofonista”de que estão querendo “roubar a sua performance”, juro que nem saco nem tempo nem tudo mais teria para ouvir esse Bolero! Meu Deus! Quanta besteira em nome de um simples Bolero! “Roubar performance”? Meu Deus! Brigar por aquilo?! Meu Deus de novo!
Da minha parte, ressaltando mais uma vez nada ter contra um e o outro, ou seja, os dois, o dono do Bolero e o da “performance”, confesso que sairia dali a pé ou montado num Jacaré e iria “me tocar” bem longe! Se tem mais? Tem: armaria o meu bar anos luz de distância dessa música que, executada todos os dias, mataria até o Salvador Dali (dali mesmo, do Jacaré!) de tédio!
Mas há quantos anos mesmo o Sax do Jurandy toca o Bolero de Ravel, pontualmente, às dezessete horas, equilibrando-se numa piroga?
Coitado do barqueiro!
Aquilo tonou-se uma piroga! Afastou até os jacarés da praia!
ah, bicho, a palavra é essa mesma: piroga! um homem tocando uma música insuportável, equilibrando-se numa piroga!