O Bolero de Ravel não deixará de existir. Sei. Jurandir continuará enchendo os ouvidos – e sacos – de muitos que, mesmo sem o por do sol esperado, ali responderão presente. O barqueiro da piroga que transporta Jurandir tocando um Bolero, pela vez dele, acredito que não aguenta mais ouvir esse Bolero. Eu? Sempre vou preferir o Concerto de Aranjuez.
O pirogueiro irá continuar sofrendo para suportar mais que os 17 minutos originais da composição de Maurice Ravel (na primeira gravação, com Ravel ao lado de sacho cheio, a peça durou apenas 15 minutos e 40 segundos) Pra que mentir? Se barqueiro eu fosse dessa piroga¸mesmo respeitando o profissional Jurandir tocando outras coisas, louco já estaria ou odiaria, mesmo sabendo que culpa ele não tem no cartório nem em Jacaré, o compositor pelo resto da minha vida.
Sei não, sei não… Sei não mesmo! Sei apena que o por do sol não vai deixar nunca de existir ali nem em alhures! Embora em alhures os pores do sol não sejam tão bonitos quanto os daqui. Embora sabendo que o estado de espírito é muito importante para alguém achar um por sol o mais belo da vida ou desejar que ele se ponha o mais rápido possível. .
O pirogueiro com certeza irá agradecer: um saco ouvir a mesma música milhares de vezes numa piroga, sabendo que existem milhares de composições musicais melhores para se ouvir. O pirogueiro deve estar agradecido pelo descanso da piroga sem aquelas barracas palafitas. E agradecerá ainda mais se Jurandir lhe der umas férias remuneradas. Ele merece. Nós também.