Fazia um bom tempo que não me encontrava com o cantor mau caráter. Pausa. Ele sabe que é mau caráter. Eu sei e nós sabemos. Mas ele não liga.
Um dia ele me falou que não saberia viver de outra maneira. Era assim como o sujeito que não sabe viver honestamente nem esquecer por um minuto a sua condição de lambe-cu.
Ele é um razoável cantor. Não é um “Cantor”. Assim com maiúscula no começo. Vocês sabem. Negar não hei de. É o tipo que cantando consegue dizer algo do que deseja. Não tudo. Apenas algo.
Um dia não muito distante, ele disse que para conquistar o que desejava não respeitava nem pai nem mãe. Além de mau caráter, um sacana-mor. E repetia: passo por cima dos pescoços deles – o pai e a mãe – se for para ficar rico nesta vida.
O sonho do sacripanta é ser rico. Não o é ainda. Nem será. Tenho a certeza. Ele já caminha para o final de sua pífia vida. Esta beijando os 70 anos. Sempre assim. Caminhando e enganando muitos com seu canto sem graça. Acha-se o cara que nunca foi.
Não faz muito tempo que levou uma de suas namoradas a trocar de roupa e se mudar para outra cidade, devendo a Deus – Esse que acho merecer encontrar nessa cidade para onde se mudou – e o mundo.
Ora, disse um dia o sacripanta, homem é para ser sustentado por mulher. E era. Os cartões de crédito que antes essa, a sua namorada, usava para sobreviver, foram usados para a sua sobrevivência de muita cachaça e desonestidade. Um ex-croto.
Era simples: fizesse um empréstimo que a ajudaria a pagar. Ela negava. Ele, pela sua vez sacana, insistia: se assim não fizer, não pagarei o que você tirou da primeira vez que lhe pedi.
Ela, então, pobre sem sorte, namorada sem muitos sonhos ao lado do ex-croto, não conseguia dizer “não”. E assim, pouco a pouco, se tinha com que viver, agora pedia aos amigos ajuda para sobreviver.
O cantador ex-croto não estava nem aí. Ora, com ele, dizia, mulher tem que pagar para tê-lo. Ele é Baixinho, feio, analfabeto e… Mau caráter. Mas e daí? Perguntava entre um sorriso e uma gargalhada, se ela quer, carente e precisando de um homem, tem que pagar.
Fazia tempo que o cantor mau caráter não aparecia. A última vez foi aquela em que ele “deu um golpe” nos colegas de trabalho, ficando com todo o dinheiro de um show de sacanagem que fez um dia por aqui. Foi rápido: pegou o dinheiro, disse que iria pagar o acordado com os colegas e, pedindo licença para ir até o carro que estava na frente do teatro estacionado, escafedeu-se! Um sacanão!
Se eu falo com ele? Ora, é difícil deixar de falar com todos os ex-crotos e sacanas que conheço. Mesmo assim, a partir de agora, tentarei tirá-lo da relação do ex-crotos com quem falo.
Mais que uma promessa, será uma certeza. Chega de tantos ex-crotos atravancando o meu caminho! Se passarão? Nenhuma dúvida. Passarinho ficou apenas para o meu poeta Mario Quintana.