O Colar de Dumas

O Colar de Dumas

 Sem regras nem pregas (no bom sentido, claro) nesse pensar livre e livre pensar. Quinta-feira.  Estou a devanear (gostei) sobre as coisas que leio e aquelas que nunca li. Essas, as ultimas, morro de vontade de ler um dia. Um dia lerei de saco livre ou levemente vazio. Raro não estar de saco cheio. Sei.  É um vai e vem  danado. Mas sem gozação.

Escuto Johnny Alf cantando a sua – dele – “Brisa” imortal.  O computador mudo e eu sem nenhuma puta dor no peito. Para desopilar deixo de lado a busca do meu tempo perdido,  isto é,  dele,  e abro o leve  Alexandre Dumas (não confundir com o Alexandre Dumas Filho). Pausa.  Respiro. O computador espera os dedos malabaristas.

Negócio seguinte: Alexandre Dumas era um escritor que deixava bem claro – ou será que não era tão claro assim? – que, assim como este MP, se divertia um bocado escrevendo. Alexandre era um cara que gostava de escrever. Ah, de escrever muito bem, e escrevia.

E isso, meus dois leitores amigos,  não duvidem, é uma coisa muito saudável: o escritor trabalhar não só porque “sabe e deve”, mas porque gosta muito de fazer aquilo lhe dá prazer. Assim ele se diverte tanto ou mais que os leitores que vão curti-lo mais tarde. Deu pra entender? Então vamos lá.

Foi um tempo em que o meu pai, o Compadre Heráclito, vivia nesta cidade com a sua roupa de carne e osso, que li do Alexandre Dumas o seu Colar de Veludo  pela vez primeira. Ah, e como era gostoso quando ele morava/vivia nesta cidade! Sim, falo do meu pai. Foi assim, pensando nele, nesta quinta-feira  de saco vazio, que veio a certeza do parágrafo aí de cima.

O livro é a história de Hoffmann. Quem é o cara? Um sujeito que deixa a Alemanha, para viver o sonho de morar em Paris. Tão acompanhando? Tudo bem.

E lá, em Paris, ele  encontra o quê?! Ora bolas! Paris já era um festa em movimento! Lá encontra paixões arrebatadoras, a violência revolucionária tão característica da época, e (tchan! tchan! tchan!) a apaixonite aguda pela bailarina Arsène, a dama do Colar de Veludo! Em frente? Vou!

Não vou contar a história tin-tin-por-tin-tin porque não pretendo cortar o barato de quem pode se arvorar, depois de ler essas mal-traçadas, a devorá-lo numa quint-feira dessas de saco vazio e muito sol.

 

O livro era pra ter um clima melancólico, soturno, uma coisa assim. Mas nas entrelinhas e muitas vezes nas linhas mesmo,  o espírito alegre e cheio de brilhos do escritor vencia-lhe a tentativa de contenção, e lá deixava estampada uma gozação bem feita dos ademanes sociais – gostaram? Eu gostei! – que retratava. E some-se a tudo isso um conhecimento feladaputa!

Lembro – um dia essa memória ainda vai me matar! – que o escritor  tinha uma queda danada para o folhetinesco. Uma sacada de prender o leitor pelo pé e carregá-lo no colo da fantasia, das tramas e do suspense. Uma coisa assim. Mais ou menos assim.

 

Mas, observe-se que o “pano de fundo” de tudo isso era (e continua sendo) um puto conhecimento da História. E isso ninguém pode negar.

Outro dia, depois de lido o Colar aí de cima, pensando no dia que se aproximava para servir ao exército, como sonhava o meu pai e temia a minha mãe, fazendo-me  ter pesadelo, tomei coragem e mergulhei fundo nos muitos volumes (quanto são mesmo?) do seu antológico Memórias de Um Médico.

E que histórias bem contadas, hein,? E como o Alexandre Dumas escrevia bem e gostava e brincava com que escrevia! Memórias… é para muitos o melhor dos seus livros!

Nessas Memórias, se a memória ainda não me pegou desarmado e me matou pela segunda vez, ele conta em detalhes uma fantástica aventura datada na época da revolução francesa, começando alguns anos antes e terminando no seu – dela – final. Uma curiosidade: nele coloca personagens reais como os reis Luiz XV e XVI,  e mitos da época como Cagliostro e Saint Germain.

 

Um dia, noutra quinta-feira de saco vazio e, queira Deus, muito sol, se tiverem gostado  voltarei às memórias do Alexandre Dumas.

Em tempo: em 2002 os restos mortais do Alexandre Dumas, o pai, foram transladados para o Panteão de Paris, e mora hoje na mesma casa de Honoré Balzac, Emile Zola, Victor Hugo e outros “mortos” ilustres. O cara era bom mesmo! Alexandre era o cara!

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