O nosso bom e sempre cronista Gonzaga Rodrigues ainda mora por aqui. Felizmente. E por aqui ainda morando lamenta o fato de viver solitário no meio de uma multidão que lhe faz cada vez mais ilha de corpo e alma. Mora em um edifício em que falta muito pouco para ser igual Edifício 2000 do bom Paulo Pontes, porém, sente-se sozinho.
Lamenta o cronista. O motivo? Simples: quer conversar com os vizinhos. Apenas. Sente falta daquele papo que poderia ter – teve muitos – em sua Alagoa Nova. Ou mesmo um papo como os muitos que bate no seu velho e conhecido Ponto de Cem Réis.
Um papo entre amigos próximos. Era isso que ele queria com os seus vizinhos. Quase irmãos. Os vizinhos do seu – dele – edifício moram distantes. Sente. Vivem e sobrevivem distantes. Nunca viu e sentiu próximos tão distantes!
A Província das Acácias ainda não merece a condição de cidade grande onde os seus habitantes se apequenam pela distância que mantém entre si. Ninguém sabe os nomes de seus vizinhos. Ele principalmente. Se sabe, nunca fala, bate um papo com eles. E não tem aproximação necessária para chamá-los carinhosamente pelos apelidos que os tornam cada vez mais próximos.
As cidades grandes quase sempre deixam as pessoas pequenas no quesito da aproximação. O cronista sente falta de sua Alagoa Nova. A sua terra. Essa onde todos sabem quem era ele e ele de todos sabia um pouco. E nnão raras vezes muito.
A conversa que existe no edifício onde mora é de elevador. Conversa de elevador. Essa que eleva a dor da distância. Na distância. Se a conversa começa num andar, nem andar mais dela precisa para terminar na primeira abertura de porta. Fecha-se a porta do elevado, e as bocas se fecham também. Fim de papo. Fim do papo.
Ali tudo é automático. Todos vivem automaticamente. Mesmo para se cantar parabéns num aniversario de um vizinho se faz necessário que esse cantar seja baixinho. Triste. Parabéns silenciosos se tornam mais tristes que a não comemoração de quem acabou de nascer para um novo ano.Apartamento é sempre firo. As pessoas, porém, não precisam ser frias como ele. O cronista tem razão. Os próximos estão cada vez mais distantes.
Há de chegar um dia em que cada um exigirá um elevador particular que elevará a dor da solidão ainda mais. Sairão de casa para dentro seus carros e desses carros direto para os respectivos banheiros. E ali, dependendo do estado de cada um, puxarão descarga e descerão pelo ralo! Eis a questão? Não passa mais por ai – eis o homem moderno.