Não vou discutir o “crime ambiental” alegado pelas nossas competentes autoridades para decretarem o fim da exploração – em todos os sentidos – do comércio nas barraquinhas somente palafitas na praia – que nunca foi uma praia, mas simplesmente um rio, o Paraíba – de jacaré.
Não vou mentir. Confesso que não sou um sujeito que se possa chamar de “ambientalista” ou coisa parecida. Mas também é claro que não sou favorável a destruição do ambiente em que vivo e uso como meio para viver e sobreviver.
Confesso ainda que lamento e muito pelos muitos parahybanos e poucos não parahybanos – ou nenhum – que dali tirava o sustento seu – isto é, dele – e de sua – ainda dele – família. Uma pessoa que passou décadas fazendo aquele serviço, único, artistas e garçons e garçonetes e outros não encontrarão um emprego fácil para dar continuidade à vida com dignidade e as vidas dos seus.
No entanto, serei direito como um chute nos bons tempos do infalível Bruce Lee: se fui duas vezes àquele local para assistir ao sol se pondo fui muito. O meu por do sol, dependendo do meu estado de espírito, é belo de todo local onde eu o olho e o capturo com o olhar colorido.
Não acho que ali esteja o por do sol mais bonito da minha cidade. Acreditem. Do meu quintal, sem o Bolero de Ravel para atrapalhar, tenho assistido a pores do sol que esse da praia de jacaré que não é praia nem tem jacaré não chega nem perto de sua beleza!
O por do sol, assim como o arco-íris, somente existe pra ser visto. Assim, se ele não é visto, ele não existe. O por do sol do meu quintal, porém, vai existir por todo o tempo em que eu morar nesta cidade e vestir essa roupa que ainda visto. Repito: lamento aqueles que viviam do por do sol do jacaré. Não lamento o fim da execução do Bolero de Ravel, nem a retirada das barracas que“afogavam” rio.