- My job is to translate!
Diria o filho de Dona Canô na língua do The Bard. O meu trabalho é de traduzir. Pausa. Esse ainda não é o meu. Assim diria este Malabarista de palavras num inglês simplório ao nada simplório – algumas de suas 37 peças eram – gênio de Stratford-upon-Avon. Não traduzi o que muitos traduziram. Não quero. Nem capaz eu sou. Confesso.
Aqui, nesse exato momento, na minha ilha cercada de livros, discos e filmes por todos os lados tentando explicar a minha sobrinha que o The Bard nada tinha a ver – nem a ouvir – com essa empresa de perfumes. Penso no ser ou não ser. Por aí. Mas ela insiste. E esse Avon vem de onde? Não lhe respondo.
Uma coisa, porém, digo para minha inteligente e curiosa sobrinha, essa eu sei: o casamento de Shakespeare com Anna Hathaway só durou 34 anos porque ele praticamente nunca morou com ela. Como? Explico-lhe em poucas palavras e muito silêncio.
Era ele lá em Londres e ela. mais velha do que ele, porém independente financeiramente e muito bem de vida, obrigado, na cidade onde o Bardo de Avon nasceu. Nada, porém, acrescento para a sobrinha que vocês já conhecem, que o Bardo nem era lá chegado a um perfumezinho.
Naquela época, longe muito longe de saber sobre a existência do Vinícius e Toquinho, Shakespeare sentia que poderia ser feliz sozinho, mesmo estando distante. Mas, porém, e ai porém, como no samba de Paulinho Viola, somente estaria feliz sozinho se estivesse bem acompanhado. Tudo numa boa. Era ele lá e ela cá. Isto é: na terra de onde nunca saiu.
Hoje, passada a fase shakespeariana, acredito mesmo que a distância – não tanto quanto a dele – também pode aproximar ainda mais aqueles que a distância não separa. Um dia, dois, três… tá bom. Não 34 anos! Tempo esse que na verdade foi o tempo em que eles passaram juntos e distantes. Tempo de “parceria”. Essa sim durou 34 anos.
Melhor ser feliz sozinho? Tudo bem. Desde que você esteja bem acompanhando.
Em tempo: ainda de molho e exercitando os dedos malabaristas. Nenhuma pretensão. Exercício. Apenas.