o vendedor de máscaras e a cliente com cara de dercy gonçalves

o vendedor de máscaras e a cliente com cara de dercy gonçalves

Em casa, assim como pedem os que entendem mais de Corona do que eu, somente saio quando não é mais possível permanecer dentro dela. No entanto, confesso que sou um pouco maleável quando se trata de ficar por muito tempo “preso” a alguma coisa. Preso. Não importa onde nem em o quê.  Claustrofóbico. Disso um pouco eu tenho. Ou muito.

Depois de quase cumprido o que manda o figurino, esse feito sob medida para essa triste fase do Corona, respiro fundo, benzo-me três vezes, toc, toc, toc, imaginando-me batendo na cara de pau de um desses sacanas para quem o Corona não passa de uma “gripezinha”, e sigo para o supermercado. 

Na chegada, assim de cara, deparo-me com uma faixa –  tudo em maiúsculas- onde está escrito que não é permitido entrar sem máscara. Penso um pouco. A minha não estaria boa? Não discuto, nem mato.  Não penso duas vezes, pois, logo em seguida, vejo um rapaz em ponto estratégico, com uma caixa cheia até a boca de máscaras de pano, “fabricadas em casa e somente higiene”, que me oferece uma.

Não quero. Não ando mascarado. Mas, se preciso, como agora, carrego uma dentro do meu azalão vermelho.  Ele então, rápido no gatilho, sem dispensar a mínima atenção para a minha recusa, oferece a uma senhora que passa analisando o produto, cara de Dercy Gonçalves, e vai abrindo todos os “sacos higienizados”,

 Ela não se faz de rogado. Nem ele. Tira uma, cola no rosto, ajeita aqui e ali, mas não gosta. Essa é pequena, diz. O vendedor, rápido no gatilho, abre outro higienizado saco, e pede para ela provar a máscara que ele, do saquinho higienizado, agora tira. Ela enxuga o suor do rosto, dar duas tossidas, levanta a saia que parece não querer subir, e encaixa a máscara. Puxa aqui, ajeita ali, abre a referida, cobre todo o rosto suado, mas… é grande. Também não gosta da cor.charge coronna

Não parei para assistir ao fim do primeiro ato. Na saída do supermercado, agora mais devagar, sabendo que o vendedor de máscaras não iria insistir em me vender o seu produto, me deparo com a mulher com cara de Darcy Gonçalves.  E, para surpresa nenhuma, ainda sem máscaras. Saio do supermercado.

Em cima de um dos banquinhos de cimento ali dispostos para os clientes, muitas máscaras, todas fora dos “saquinhos higienizados”, jaziam estendidas sob o sol, esperando que o suor de Dercy Gonçalves, uma vez que ela provou “ene” máscaras e não gostou de nenhuma, fosse embora, levando consigo os Coronas que por acaso tivessem caído naquela armadilha.

Não comprei a máscara dele. A minha, nesse e outros casos, me pega melhor.

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