Orlando Silva

Dom Cardoso
Orlando Silva – o cantor das multidões.

Falecia no dia 7 de agosto de 1978, aos 63 anos de idade, vitima de uma isquemia cerebral. Com sua morte encerrava-se a história da mais bela voz do cancioneiro popular. Orlando Silva foi sem dúvida nenhuma o maior cantor da nossa música popular brasileira de todos os tempos. No period entre 1935 a 1943, foi o mair cantor de massa que surgio no Brasil.
Esta é a história de uma voz. Não de uma voz comum, dessas que em todas as épocas e em todo mundo interpretam o sentimento poético e musical dos povos. Dessas que, a partir do ad- vento da gravação sonora e do rádio, no amanhecer do século XX, invadem todos os ouvidos pelos múltiplos canais de comunicação postos à disposição do ser humano.
É a lenda de uma bela voz. Talvez a mais bela que o cancioneiro popular já utilizou, quaisquer que sejam os idiomas em que foram timbradas. Uma voz que, talvez, por ter sido tão especialmente bela, não conseguiu durar mais do que o tempo equivalente a uma breve infância biológica. Exatos oito anos mais seis meses.
Esta é a história da voz de Orlando Silva (1915-1978), no período profissional do cantor a sua estreia no disco, em junho de 1935, a sua última gravação, em dezembro de 1943, antes de perder o privilegiado vocal que fez dele o primeiro ídolo de massa da música popular no mundo, o “Cantor das multidões”.
Orlando Silva nasceu na Rua General Clarindo, no bairro do Engenho de Dentro, subúrbio carioca. Filho de Balbina Garcia e seu pai José Celestino da Silva, era violinista e participou de uma das formações do conjunto de Pixinguinha “Os Oito Batutas”, animando serenatas, peixadas e feijoadas, José Celestino não viajando para o exterior com o conjunto, porque na época já era pai de três filhos. Oelando silva teve cinco irmãos, mas foi o único com vocação musical.
Em todas as apresentações de escola, Orlando era convocado a cantar, o que fazia escondido por sua grande timidez. Quando voltava do colégio, subia em um pé de amoras e passava horas cantando, atendendo a pedidos dos vizinhos. Certa vez em um dos domingos de outubro na Festa da Penha, ainda de calças curtas, começou a cantar e o lugar passou a ser procurado “por ser aquele onde se apresentava aquele menino”. Orlando Silva viveu por três anos nes- te ambiente, quando, então, seu pai faleceu da gripe espanhola.

Teve uma infância normal, sempre gostan- do muito de violão. Na adolescência já era fã de Carlos Galhardo e Francisco Alves, este último um dos responsáveis por seu sucesso. Seu pri- meiro emprego foi de estafeta da Western, com o salário de 3,50 cruzeiros por dia, trabalhou também como entregador de marmitas.
Foi então para o comércio: operário de uma fábrica de cerâmica, aprendiz de cortador na fá- brica de calçados Bordalo, situada na esquina da Rua Buenos Ayres, vendedor de tecidos, entre- gador de encomendas da casa Reunier. Quando estava nesta função, sofreu um acidente ao ten- tar entrar no bonde em movimento, que lhe causou a perda dos quatro primeiros dedos dos pés e transtornos para o resto da vida. Acredita-se que surgiu nesta época seu envolvimento com a morfina, droga utilizada para acalmar a intensa dor causada pela amputação dos dedos. Tendo um dos seus pés parcialmente amputado, ficou um ano inativo, lhe trazendo sérios problemas financeiros, já que sustentava a família.
Após seu restabelecimento, foi trocador de ônibus, uma das poucas funções que podia desem- penhar sentado. Por sugestão do motorista do ôni- bus, o português Conceição, se apresentou em um circo que estava em frente à empresa. O filho do dono da empresa, José Correia Lopes (Zezé), impressionado com a voz do cantor tirou-o do ônibus, oassando-o para sevirços de escritóto.
Seu irmão, Edmundo, grande incentivador de sua carreira, fez com que ele fosse à Radio Cajuti. Na Cajuti, ensaiou com o violinista Brito, preparando números para apresentar à Bevilacqua, o diretor da rádio. Depois de três, quatro tentativas de encontrar o diretor, numa das vezes foi ouvido pelo compositor Bororó, que o levou ao Café Nice para apresentá-lo a Francisco Alves. Foram até o carro de Chico Alves, e começou a cantar um samba de Ary Barroso. Em seguida cantou a valsa “Mimi” do compositor Uriel Lourival. Entusiasmado, Chico Alves marcou um teste na Rádio Guanabara, para ouvi-lo ao microfone. O sucesso foi enorme, e Fran- cisco Alves o convidou a estrear em seu programa.

Em 1940, já no auge da fama, iniciou uma grande história de amor com a atriz Zezé Fonseca, relacionamento turbulento que perdurou até aproximadamente 1943. Acredita-se que por essa época o cantor tenha voltado a utilizar a morfina, com- prometendo assim sua bela voz e carreira artística. Em 1947, uniu-se a Maria de Lourdes, com quem viveu harmoniosamente até seus últimos dias. Maria de Lourdes faleceu em 1993.

Foi Bororó, conforme o próprio relato no filme “O cantor das multidões” que o apresentou a Francisco Alves, que ouviu Orlando Silva cantar no interior de seu carro, decidindo imediatamente lançá-lo em seu programa na Rádio Cajuti. Nos seis ou sete anos seguintes, tornou-se um grande sucesso, considerado por muitos a mais bela voz do Brasil, contando inclusive com a estima do próprio presidente Getúlio Vargas, que dizia “Eu gostaria de ter a popularidade do Orlando Silva”. Orlando Silva atraía os fãs de tal forma que o locutor Oduvaldo Cozzi passou a apresentá-lo como o “Cantor das multidões”, conforme relata o filme com o mesmo nome.

Nenhum outro cantor em toda a história da mpb alcançou tanta glória e respeito do que o cantor Orlando Silva. Os maiores clássicos da mpb gravados por Orlando que ainda hoje são regrava- dos numa demonstração que faleceu o cantor, mais sua gloria de cancioneiro popular se perpétua, tornando-se imbatível até os dias atuais. No tocante a afirmativa de que foi a mais bela voz do Brasil, quiçá a mais bela do mundo, porque essa afirmativa vem do maior tenor da época Tito Scarpa “menino eu nunca ouvi uma voz tão bela, para mim sua voz é uma das mais belas vozes do mundo”.

Uma voz que resplandeceu como um espírito mitológico do ar, que surge do nada, paira por um curto tempo entre os mortais, encantando e embevecendo com sua magia, para logo desaparecer numa bruma tão misteriosa quanto o relâmpago que o fez surgir.

Uma voz que invadiu o panorama musical brasileiro com uma força avassaladora, arrebatando multidões de apaixonados admiradores de todas as idades, sexos e condições sociais, e que impregnou com inigualável influência milhares de cantores das gerações que se sucederam, de profissionais de grande valor a seresteiros despretensiosos e anônimos, com as formulas revolucionárias do virtuosismo técnico inovador que introduziu na arte do canto, e o exemplo do seu timbre vocal de beleza incomparável.
Com a morte do cantor das multidões fechou-se um ciclo glorioso da mpb, nunca mais alcançado por nenhum outro cantor ou cantora que o sucederam.

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