Não queria nem saber daquela propaganda besta de que perdemos um terço de nossas vidas em cima de um colchão. Em cima ou em baixo? Não estava preocupado. Dormir. Estava perdendo justamente isso: o tempo para dormir.
Não queria passar a vida acordado e identificado como o homem que não dormia. Queria dormir e fim de papo. Mesmo que fosse para sempre. Fechar os olhos e deixar o corpo vagar, levitar, voar em direção ao mistério. Isto iria acontecer.
Um dia disse somente sorrisos que iria engolir esse sol e beber todo esse mar! Pegar o mundo e atirar na privada e dar descarga e fechar a janela! E E, pensando assim, finalmente adormeceu.
No quarto vizinho onde os seus pais dormiam, sonhavam, ouviu-se apenas um barulho de água descendo em rodopios. Nenhuma carta deixou. Nenhum vestígio. No vaso sanitário a água mais limpa que os olhos dos pais já viram.