Pedacinho de saudade

Pedacinho de saudade

 

Por Anco Márcio – em 01/06/2010 às 00h00

Escrevo com a mesma tristeza que tinha, quando brincava Carnaval na minha mocidade. Pra mim a terça feira, último dia dos festejos do chamado Rei Momo, que parece nem existir mais, traz em si uma enorme dose de saudade e lembrança. Lembranças dos meus velhos carnavais, de vinte, trinta anos atrás.

Lembranças tristes de ver como os dias passavam rápidos, como num piscar de olhos, a gente passava do alegre sábado, pra triste terça feira, quando a gente tentava prolongar a madrugada para que o dia não raiasse e acabasse a nossa festa, fosse no Astrea, no Cabo Branco, no Independente, fosse onde fosse.

Lembro que ficava olhando pra meu reloginho vagabundo e vendo as horas passando. Meia noite, uma hora, duas, até que chegavam às cinco horas. E os instrumentos paravam de vez, deixando no salão aquele silêncio de doer no ouvido. Naquele tempo eu pensava que os sessenta anos só aconteciam com os outros…

Lembro-me de um Carnaval que brinquei no Independente, onde conheci uma linda menina (no Carnaval não existe mulher feia, você é que bebeu pouco) e demos voltas e mais voltas no salão. Eu a achei linda, mas devo confessar que tinha tomado uns quatro conhaques, que era barato e pegava logo.

Rodopiei com essa menina no salão, trocando juras de amor eterno e nunca mais a vi. Hoje, se estiver viva, deve andar por perto dos cinquenta. Mas sua carinha linda, seu sorriso, permanecem vivos na minha memória até hoje. Ela me disse que morava perto da estação ferroviária. Fui por lá, mas nem o nome dela eu sabia…

Outra vez brinquei com Sonia, no Cabo Branco. E até pouco tempo guardava uma fotografia minha e dela, sentados na grama, levando no rosto o frescor e o viço da juventude. Hoje sou avô, e ela se não é avó, anda perto. Ah, o tempo, encerrando os carnavais, pondo em nós, barrigas e rugas.

São sete e quarenta da terça-feira de carnaval. Por essa hora eu já estava triste, pensando no final da festa. Eu sempre fui e ainda sou assim. Já começo as coisas, pensando no final, pois o tempo sempre me ensinou que nada é finito, que tudo se acaba, inclusive a vida…

Velhos carnavais de minha juventude. Não voltarão nunca mais. Como as águas de um rio, o tempo anda sempre para a frente. Sem querer saber do que fica para trás. Quanto riso, ó, quanta alegria, mais de mil velhinhos no salão… Todos eles aguardando a volta dos músicos a fim de tocar um alegre “Vassourinha” pra varrer de vez o monte de saudades…

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