quem gosta de ler não morre só!
A caminhada deveria ser todo dia. A minha. E nem precisava ser o dia todo. Ora bolas! Nunca foi assim comigo antes, por que agora seria? Tudo bem. Depois mudou um pouco. Senti. E hoje caminho mais do que nunca.
Agora – “ágora” é outra coisa – se vocês perguntarem onde é que desejo chegar caminhando, responderei apenas que a meta é a qualidade de vida. A minha. Mas confesso que me sinto muito bem quando caminho. O cansaço é tão pouco que esqueço não raras vezes que estou caminhando.
Volto a dizer: não me canso de caminhar. E as vezes que paro, é porque assim decidi. Dizem que um teste infalível para saber se o vírus do mal atacou os seus pulmões é a caminhada. Teste: caminhe cem ou duzentos metros, mas se ficar cansado, cuidado: pare! Pense um pouco e, mais que de repente, procure fazer um teste parado com furada na veia ou passada de cotonete na língua.
A caminhada era mais alegre quando os meus olhos faziam a festa quando se deparavam com os grafites no muro que cerca a pracinha em que caminho. Mania mesmo. Fiquem certos. Todas as vezes que passava, sem pressa, os meus olhos brilhavam ao ver escrdito no velho muro: “QUEM GOSTA DE LER NÃO MORRE SÓ”.
Enquanto isso, o sol morria no poente.
Não sei quem a frase ali desenhou. Isso: era bem desenhada. Na caminhada estava sempre a lembrar que o poeta Drummond escreveu um dia que leitura é uma fonte inesgotável de prazer, mas, por incrível que pareça, a quase totalidade não sente esta sede.
Não faço parte dessa totalidade! E amigos meus, muitos, também não.
Senti saudade. A sua – da frase – falta. Senti falta dos dias que passava espalhando os olhos na frase aí e filosofava (risos): a leitura é para o intelecto o que o exercício é para o corpo.
Não tem mais frase. Hoje constatei. Mas e aí? Nenhum problema. Nenhum mesmo. Os olhos viram e dela gostaram tanto que a bem desenhada virou tatuagem na memória. E agora, apagar como? Não tem mais jeito: “Quem gosta de ler não morre só”.
Não morrerei.
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2021-02-25