Eu gostaria de não ficar nesse “no entanto é preciso cantar”, mesmo passado o carnaval. Tudo bem. Cantar é preciso, mas viver é mais preciso ainda. Navegar? Nem tanto. É necessário desde que navegar de corpo e alma para dentro de nós mesmos (sic).
Acho navegar um verbo solto ao vento. Um verbo com gosto de vento da manhã. Um gosto que não se define. Que não molha a nossa língua, mas passa e nos deixa com a sensação de que acabamos de comer o mais delicioso dos banquetes.
Acho mesmo que essa Marcha, apesar do seu tom um tanto triste, muito, diz tudo aquilo que nestas mal-traçadas não consigo, talvez mesmo pelo fato de não ser poeta, dizer para aqueles que continuarão fantasiados pela vida ou esses que aproveitam o carnaval pra tirar as suas fantasias.
Fica, pois, a minha quarta de cinzas com esse tom nostálgico e sem esperanças de ver dessas cinzas renascer quem eu desejo como a mais bela das fênix. (fênices ?).
Marcha de Quarta-Feira de Cinzas
Vinicius de Moraes/Carlos Lyra
Acabou nosso carnaval
Ninguém ouve cantar canções
Ninguém passa mais
Brincando feliz
E nos corações
Saudades e cinzas
Foi o que restou
Pelas ruas o que se vê
É uma gente que nem se vê
Que nem se sorri
Se beija e se abraça
E sai caminhando
Dançando e cantando
Cantigas de amor
E no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
É preciso cantar e alegrar a cidade
A tristeza que a gente tem
Qualquer dia vai se acabar
Todos vão sorrir
Voltou a esperança
É o povo que dança
Contente da vida
Feliz a cantar
Porque são tantas coisas azuis
E há tão grandes promessas de luz
Tanto amor para amar de que a gente nem sabe
Quem me dera viver pra ver
E brincar outros carnavais
Com a beleza
Dos velhos carnavais
Que marchas tão lindas
E o povo cantando
Seu canto de paz
Seu canto de paz