Aqui, fora da minha ilha cercada de livros, discos e filmes, um homem ilhado por livre e espontânea vontade, penso na História da Loucura do Michel Foucault.
Lembro daquele dia em que estive em nossa Colônia Juliano Moreira, comemorando o dia deles. Não o da loucura, esse é todo o dia, mas daqueles que se encontram “presos” por temerem que as suas loucuras saiam às ruas levando os muitos que ainda loucos não são a invejá-los.
A Nau dos Loucos do Foucault. É isso que me vem agora à cabeça. Essa mesma que transportava os loucos para lugares distantes e os deixava à deriva, assombrando a todos. Não me lembro bem, mas a história passa por ai.
O saber e poder me lembram muito esse filósofo arretado. A verdade e poder. Mas eu gosto mesmo de sua visão da loucura, essa que pouco a pouco foi sendo calada para não sufocar os normais. O medo era tanto que a única forma de extingui-la – ou tentar, tentar apenas – foi transforma-la em doença.
A loucura passou então a ser considerada uma doença e, por isso mesmo, era preciso afastá-la dos homens sãos… e salvos dela. E assim o medo da Loucura levou a sociedade a construir presídios para evitar que ela continuasse solta pelas ruas assombrando os normais.
Os loucos precisavam viver em celas, para que nós os normais pudéssemos seguir com a nossa lucidez. Os loucos, esses em especial, segundo Foucault, eram os pobres e desvalidos. Desempregados e vagabundos. Mas, além das naus da loucura, naquela época, no Renascimento, as naus do preconceito também começaram a singrar esses mares hoje tão navegados.
Tudo é loucura! A minha, porém, essa que não troco, não empresto nem vendo, continua esperando o momento certo de flertar com a lucidez!