As chuvas cessaram. Mas resta pairando no céu um manto úmido de chuvas pesadas d’água. Os ruídos me chegam pelos braços do ar. São vozes. São músicas. São campainhas. Sinto o pulsar do meu coração e respiro o ar que chega e me alimenta os pulmões.
Vejo o barulho. É isso mesmo. Não apenas o escuto porque ele não é tão-somente barulho. É explosão. É a manifestação do ego. A desesperada tentativa de todos os egos dando continuidade à vida em superfície. É a intriga. A lamentação em cima das dificuldades e todo mais.
Mas há um barulho que não escorre, que fica contido dentro da minha cabeça, mas que é o mesmo desespero. Vejo todo o barulho e entendo que ele existe para que se mantenha a farsa do ilusório mundo da superfície.
Ah, meus amigo,ah, minhas amigas, assim não se dá permanência apenas ao prazer; à diversão; ao gozo. Assim garantem-se nossas ignorâncias e desumanidades. Mantendo o ego doente, somos doentes e precisamos da dor. E essa dor é bendita porque nos força a viver a verdade. E é preciso senti-la.
Sinto que aquele que já se sustenta em superfície, deve abraçar a dor. Posso vê-la como uma corda jogada para dentro, como uma ponte que nos leva para dentro do nosso verdadeiro mundo: o nosso centro. O nosso interior.
E eu já não posso dizer que ir ficando no silêncio, ficando inteiro, completo, sem pontas pra fora, é permitir-se à vida!