Um hino ao silêncio, o mais profundo dos silêncios, gostaria de compô-lo. Não ao silêncio lá fora que obrigasse os pardais a se calarem, as árvores e não roçarem folhas ou impedisse o acesso às ruas a todos esses Hondas, Vectras e Corollas. Deixar a vida lá fora: ela é todo o amparo de si mesma, ela não é inimiga do silêncio em mim.
Pois é este silêncio cantável, é esta a espécie de silêncio que ergueria o meu hino. Se o tivesse. O silêncio de mim. O silêncio dos meus olhos sem eletricidade; o silêncio da minha mente viva sem tensão; o silêncio das coisas acontecendo e eu vendo essas coisas acontecerem…
Quero o silêncio (e um hino para ele) de poder ver as coisas acontecendo e não sofrer por vê-las pouco ou muito. Não sofrer escassez ou excesso. Não me desequilibrar por ser sensível
Quero o silêncio das mãos que não avançam sôfregas sobre os prêmios; o silêncio dos pés que não recuam temerosos ante ameaças ou desconhecimentos.
Quero o silêncio de estar, simplesmente, estar comigo, estar em mim, estar agora e estar sempre. O silêncio que se não abre portas porque não existem portas para o que é pleno; o silêncio que não fecha portas porque o que é pleno não precisa se esconder.
Quero o silêncio das coisas (minhas) seguras porque estão livres. E quero conhecer a liberdade dentro de meu silêncio. Não propriamente para compor um hino – mas para saber compô-lo, caso o queira…
Maravilhoso, poeta.