UMA PEDRA NO CAMINHO DO REINO DE ARIANO SUASSUNA

UMA PEDRA NO CAMINHO DO REINO DE ARIANO SUASSUNA

AH, ESSA MINHA MANIA DE OUVIR RÁDIO NO CARRO! O carro segue livre. Numa terceira marcha. Dentro do meu tordilho com cascos de borracha carrego o mundo em mim. Não tenho porque andar mais rápido. Embora homem do meu tempo, não tenho pressa.

O assunto é Ariano Suassuna. Sempre gostei de Ariano Suassuna. Um gosto antigo. Desde menino. Acho que posso assim dizer. Mas comecei a gostar mesmo, ainda adolescente, entrando para o “glorioso” exército brasileiro, apresentado por um dono de cantina onde todos os dias fazia uma boquinha.

Lembro-me bem. Foi ele, o dono da cantina, quem me apresentou o seu (ele) Pedra do Reino e O Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971), que começou a escrever em 1958 e no qual se vê transposta a morte do pai. Moacir. Era esse! Se a memoria não falha era esse o nome dele.

Mas ainda estou no carro. Nada de música dessa vez. A voz é de Ariano Suassuna, escritor que nasceu num “berço de ouro”, o Palácio do Governo, centro da capital da Parahyba, habitado pelo seu pai, então governador, mas que nunca se afastou de suas raízes populares.

Ele, Ariano, na entrevista, lembra “um dos maiores poetas de todos os tempos”, parahybano como ele, Augusto dos Anjos, que apenas com um livro, morrendo com apenas 30 anos idade, entrou para a história da poesia para nunca dela sair.

Aproveita para fazer uma distinção entre êxito e sucesso. Nunca quis fazer sucesso, disse, ele atrapalha. O sucesso é passageiro. O êxito não, Augusto dos Anjos teve êxito. Segue o “papo entrevista”. O primeiro livro que leu? Não se lembra. Mas, por outro lado, lembra um que leu e nunca esqueceu: “Através do Brasil”, de Olavo Bilac e Manoel Bonfim, esse último um injustiçado.

 Lembra agora Monteiro Lobato. O seu encontro com Monteiro Lobato, um de seus mais queridos escritores. Recebeu da mãe, um prêmio, todos os livros do filho de Taubaté. Chegou mesmo a encontrá-lo numa livraria, em São Paulo, no fim do ano de 1947, por aí. As sobrancelhas do escritor o denunciariam. Uma quase decepção: pensava ser ele alto, era baixinho.

Se falou com ele? Apenas uma “boa tarde” que respondeu, ao se descoberto pelo escritor. O seu ar de espanto em se ver frente a frente com o seu “ídolo” o denunciaria. Arrependeu-se, disse em seguida, por não ter “entabulado” uma conversa com ele. Passou a vida “danadamente” infeliz por ter perdido essa oportunidade.

Ah, aproveitou para dizer que a Emília está para Monteiro Lobato, assim como o seu João Grilo está pra ele: ambos satirizam o Brasil oficial. Depois conto mais. Pois, por enquanto, o meu pensamento está muito longe daqui. Mas, como sempre acontece, logo voltará. Conto mais? Daqui a pouco.

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