Vandré, a desconstrução do mito

Vandré, a desconstrução do mito

Eu Plural: somente agora, depois de tanto tempo, chega as mãos – no plural memso – deste “Malabarista de Palavras”  o livro do jornalista Vitor Nuzzi a respeito do enimgático vandré. tô lendo. Mas, procurando mais sobre o jornalista e o livro, encontrei essa matéria aí que  passo para os meus dois leitores. Depois falarei sobre o livro. 1berto de almeida.

 

Geraldo Vandré é ovacionado ao cantar “Caminhando” no Festival Internacional da Canção em 1968; a canção ficou em 2° lugar e transformou a vida do compositor

“Você é jornalista?”, pergunta Geraldo Vandré à reportagem do UOL. “Então não vai ser difícil você compreender. A biografia é propriedade do artista, faz parte da comercialização da sua arte. Essas pessoas estão se apropriando indevidamente de direitos da personalidade”.

Foi assim que Vandré se manifestou a respeito de “Geraldo Vandré – Uma Canção Interrompida” (Ed. Kuarup), do jornalista Vitor Nuzzi. O livro será lançado na próxima semana como uma das primeiras biografias não autorizadas a ganhar as prateleiras após a decisão unânime do STF (Supremo Tribunal Federal) que derrubou a necessidade de autorização prévia do biografado.

Louco, revolucionário, traidor. A vida de Vandré sempre foi cercada por nebulosas definições. Autor da canção mais emblemática do período da ditadura militar, “Caminhando (Pra Não Dizer que Não Falei das Flores)“, o compositor de 80 anos, completados em setembro, não tem vontade de esclarecer sua história.

Ao pedido de Nuzzi para que participasse do livro, Vandré foi categórico: “Não tenho o menor interesse no que você está fazendo”. Já para o UOL, com a voz calma e pausada, ele descredenciou, como tem feito ao longo dos anos, as histórias que contam sobre ele: “É coisa rasa, está tudo errado. Dados errados, completamente”.

A pesquisa de fôlego tenta decifrar a esfinge: um artista recluso, do qual apenas o corpo voltou do exílio. Em suas raras aparições, ele evita falar do passado e faz questão de demonstrar uma boa relação com os militares, exibindo boné da Força Aérea Brasileira ou dedicando um poema às Forças Armadas. O mistério em torno do paraibano, no entanto, é resquício do truculento regime militar nos anos 1960 e 1970.

São raros os registros de Vandré em vídeo e áudio daquela época. Não há imagens de sua consagração no Festival Internacional da Canção de 1968, quando apresentou “Caminhando”, nem o registro da sua controversa volta ao Brasil em 1973, após cinco anos de um auto exílio.

Nuzzi vê indícios de que o regime tentou apagar a imagem do artista da memória nacional. “Por algum período, Vandré foi proscrito mesmo. Ele virou, para alguns, o inimigo público número um por causa da canção”, observa o biógrafo, em conversa com o UOL.

Prova disso foi uma suposta reportagem exibida no “Jornal Nacional”, da TV Globo, no dia 18 de agosto de 1973. “O cantor e compositor Geraldo Vandré acaba de voltar ao Brasil”, dizia a narração. A descrição que consta no livro conta que, cercado de homens engravatados e uma claque com faixas que o saudavam, um cabisbaixo Vandré dizia que suas canções não eram denunciativas, que ele não fazia parte de nenhum partido político e que, por fim, estava “arrependido” pela reação que sua canção despertou no crepúsculo do AI-5.

Teria sido uma encenação: Vandré já estava no Brasil havia um mês. “Ele ficou esse período prestando depoimento, ao mesmo tempo em que circularam recadinhos nas redações orientando para não falar do músico. A ‘Veja’ e o ‘Jornal do Brasil’ furaram esse bloqueio e publicaram uma notinha. Graças a isso, sabemos que ele voltou antes”, relata Nuzzi.

Sobre o episódio, Vandré é curto e grosso: “Não dei entrevista no aeroporto. Cheguei e fui direto para casa”.

O livro, no entanto, reforça a tese de que a entrevista forjada teria sido uma condição para a volta de Vandré. Em depoimento ao livro, o cinegrafista Evilásio Carneiro, que teria registrado as imagens, afirma que não havia outros repórteres cobrindo a chegada, apenas Edgard Manoel Erichsen, segundo o livro, funcionário da TV Globo e elo da emissora com os militares. Somente as mãos do repórter apareciam.

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