VANDRÉ VINDO E BEM VIVO DAS TERRAS DO BENVIRÁ*
No próximo último dia 12 de Setembro, sexta-feira, o nosso Geraldo Pedrosa de Araújo Dias, Geraldo Vandré, disparou na idade – fez 79 anos de idade.
Faz um bom tempo – e botem tempo nisso – que não o vejo por aqui nem em alhures. Se a memória não me falha o nosso último encontro se deu em distante fim de semana, iguais a tantos outros na minha província.
Tudo estava parando ou quase parado no ar. A mesma monotonia de rotina de elevador. No ar, porém, junto ao grito famoso, a pobre ilusão dos notívagos de que estavam “vivendo a vida” em toda a sua plenitude.
Era mais um fim de semana. Um bar somente nosso. De repente, assim como aquele “eis de repente” do poema do Vinícius, a porta abriu, e ele chegou com aquele seu jeito nunca diferente de sempre chegar.
O andar era nervoso e o olhar mais ainda. Os movimentos bruscos. Tensos. Super tensos. Hipertensos. Talvez. Sentar? Nem pensar. Beber? Menos ainda.
A mesa era uma das menos frequentadas naquele dia. Pouca gente. Um compositor paraibano, agora em lugar incerto e não sabido que acabava de lançar um disco; um poeta de cordel, hoje também no mesmo lugar incerto e não sabido do velho compositor, e uma companheira dos saudosos tempos de universidade que andava comigo feito tatuagem no corpo. Todos presentes. Somente Vandré mergulhado no passado.
Enquanto isso, todo vestido de branco, como sempre, copo de cerveja super gelada sobre a mesa, ensaiava os primeiros goles da noite.
Percebi, então, que o senhor nervoso e com muitas rugas residindo no rosto grave, não parava um minuto no mesmo lugar. Uma pressa somente justificável àqueles que andam pela vida em busca do tempo perdido.
Na camisa branca que vestia, lembro-me bem, encardida pelo visível tempo de uso, bem no peito, lia-se uma frase que para muitos não tinha qualquer sentido – “Das Terras do Benvirá”.
Ali, naquele dia, no “La Cave”, barzinho frequentado por intelectuais, bêbedos e equilibristas da noite, uma sexta-feira agora não mais comum, estava o cidadão Geraldo Pedrosa de Araújo Dias trazendo de longe o compositor e o cantor paraibano Geraldo Vandré.
Passados alguns anos que a memória mais uma vez não me deixa precisar, ouvindo nesse final de semana sem graça o LP (isso mesmo, um LP!) que o Geraldo Vandré insistia em carregar o seu nome estampado no peito, a lembrança respondeu presente.
Estava agora este escriba juntando mais uma vez os pedaços da imagem do filho do Dr. Vandrégisilo, primeiro otorrinolaringologista da Parahyba, e de Dona Maria Eugênia, uma boa estudante de música que chegou até ao quinto ano de piano clássico, e pagou aulas de canto para o filho que sonhava em ser “cantor de rádio”. E, junto as lembranças, o fato de que nesse mês de Setembro, dia 12, como falei no parágrafo primeiro, Vandré estaria fazendo mais um ano de vida.
Hoje, depois de tudo e por tudo que fez pela Música Popular Brasileira, a melhor em uma de suas melhores fases, bem que Vandré merecia uma justa homenagem: não esquecê-lo, como pediu um dia, mas lembrar que Vandré um dia existiu.
*Do Livro: “O que me restou do silêncio…”