Não tenho medo de avião. Nunca tive. Sempre vi esse pássaro de aço como sinônimo de liberdade. Voar! Esse era o sonho do menino-jaguaribe. Subir! Subir! Subir! Subir cada vez mais alto para ficar perto de Deus!
Era o sonho!
Um dia ainda tirarei os pés da terra, sonhava. Mas o sonho não ficava por aí. Nesse tempo os pés no alto só ficavam quando montava no meu balanço sob os galhos da goiabeira. Um balanço suspenso por duas finas cordas. Ah, um banquinho! Nada porém que lembrasse um violão. Era desse “assento” que o menino decolava em direção ao infinito!
Sonhava!
Agora grande o avião em que estamos não voa tão alto. Os ouvidos não escutam o canto dos pássaros. Sabiás, bem-te-vis, sanhaços e pardais! Sim, pardais. Eles também! Os ouvidos dentro do avião estão mudos (sic). A impressão que se tem é a de que estamos dentro de um submarino em águas profundas.
Sonhando!
Nada se vê. Melhor: nuvens. Apenas. Nelas anjos sentados e tocando harpa. Todos magros! `Pois os santos pesados furam nuvens e caem na terra que deixamos lá em baixo. Anjos perdidos. Nenhuma dúvida. Ninguém cai de uma altura dessa que não se sinta perdido!. Mas nenhuma dor nessa queda. Afinal é melhor cair das nuvens que de um terceiro andar.
A imaginação se torna mais livre quando não se estar com os pés no chão. Não estamos! Um dia ainda voaremos para nunca mais aterrissar nesta cidade em que moramos. E voaremos!Todos usando a última roupa que recebemos por aqui, porque na cidade que passaremos a morar,a roupa que se usa não desbota nem perde o vinco!
Sonhar! Voar!
Sempre que voamos, sonhamos juntos! E sonhar juntos é realidade! Nem sei quem disse isso. Sei apenas que sonhar de olhos abertos é voar na certeza de que um aeroporto nos espera!