Confissões para um pecador que confessa santo não desejar ser

Confissões para um pecador que confessa santo não desejar ser

Agostinho de Hipona.  Estranho? Muito.  Hipona? Também achava. Hoje, não.  Hipona é uma cidade na província romana da África. Mas tudo mudou. Tudo flui. Heráclito estava certo. Ambos estão.   O de Éfeso e o meu pai de Jaguaribe. Hipona hoje é Annaba.  Na Argélia. Tá explicado. Nada mais a estranhar. 

Mesmo não sendo réu confesso que gosto dele.  Santo Agostinho. Também confesso que não estou nem aí para a sua – dele – santidade. Se é merecida? Não. Nenhum ser imperfeito como este MB merece a santidade. Tem mais? Tem:  nunca acreditei que a santidade se conquistasse como num toque de mágica. Se foi um homem bom, santifique-o; ruim, mande-o para o inferno.  Nem tanto santo nem apenas demônio.

Se acredito em Santo?  Nunca fui de acreditar em santo. Mas que eles existem, existem. Talvez até mesmo por aqui, na esquina, vizinho da minha sua casa, passeando no parque, tomando –  por que não?  – um bom vinho numa noite de luar, ouvindo Mozart… Mas, se os santos existem, não serão diferentes de alguns homens/mulheres de bom coração que conheço.  Poucos, não vou mentir, mas conheço.

 O Érico Veríssimo está aí para provar que não estou mentindo.  Um dia, ratificando a sua crença na existência de seus santos – todos tem os seus -, talvez, o escritor de “Olhai os Lírios do Campo”, sem medo de estar pecando, disse que descobriu “Outro dia que o Quintana, na verdade, é um anjo disfarçado de homem.
“…Às vezes, quando ele se descuida ao vestir o casaco, suas asas ficam de fora. (Ah! Como anjo seu nome não é Mario e sim Malaquias)”!

Sem dúvidas, uma bela descoberta!

Agora, se preciso for, embora achando que não será, assino embaixo da descoberta do Érico Veríssimo. O meu poeta era mesmo um anjo disfarçado de homem.  Ninguém poderia ter feito descoberta – repito – mais bela. Escrevo sem medo de estar trocando santos por pecadores. 

Meninos, acreditem, eu vi! 

Numa daquelas manhãs em que o sol amanhece brincando com os pingos da chuva que caem dançando no ritmo de uma valsa de Strauss, vi quando o Mario Quintana passou voando pelo meu quintal, e espalhou as páginas onde eu colhia os seus poemas! Mario era – agora mais que nunca – mesmo um anjo!

Depois de falar –  como é gostoso! –  nesse santo descoberto pelas asas que descuidado deixou de fora ao vestir o casaco, Mario “Anjo” Quintana, poeta menino de aquário, volto a falar nesse outro filósofo e cristão que soube como poucos aprender a viver como um homem, sofrer mesmo, na busca do aperfeiçoamento desse projeto de Deus imperfeito que ele, mesmo no caminho da santificação, sabia ser.  

Nesse exato momento leio o Agostinho de Hipona e gosto. Porém, e ai porém, digo que gosto mais dele filosofando, vivendo, escrevendo.  Alguns “pensamentos” deles são arretados! Pensava o bom homem!  E se alguns versos do Leminski, Quintana, Drummond, Cora, Manuel de Barros e João Cabral – deixe-me ficar por aqui, por favor! – me derrubam, os bons pensamentos em frases ou ao vivo me embriagam de prazer!

O filósofo Agostinho? Com a permissão dos meus dois leitores, confesso:  suas “Confissões” são um testemunho de fé, uma das mais belas formas encontradas por ele para demonstrar o seu amor ao Deus em que acreditava – continua, claro – e amava acima de todas as coisas. O texto é ótimo! Uma pena que ando sem tempo para mim. Mas, um dia, esse que não está muito distante, voltarei ao encontro que marquei comigo e só não fui porque achei que não era aquele o melhor momento.

O homem era mesmo um santo ou estava no caminho. E nessa caminhada em busca de si mesmo (sic), esquecendo essa história de santo, pois, como vocês acabaram ler nestas minha mal-traçadas, se chegaram até aqui, claro, anjo mesmo é o Mario Quintana, tornei-me fã do pensador, filósofo, teólogo e mais ainda do escritor.  Como?! Duvidar de quê?  Ora bolas! O homem (o “santo” estava preocupado com as coisas do céu) escreveu nada menos do que    113 trabalhos, 224 cartas e mais de quinhentos sermões! Nada de santo. Mas, sendo, tudo bem. Agora que é um grande escritor isso é, meus amigos, isso é!

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