Quem foi mesmo que disse que o homem nasceu para viver em sociedade e que fora dela não havia salvação? Estou propenso a acreditar que existem frases que são ditas apenas para serem citadas em salas de aula. Imagino também que da mesma forma que o cara que inventou o trabalho, assim o fez porque não tinha nada para fazer. O cara que disse essa besteira aí deveria estar doente de solidão ou procurando alguém para dividir com ele suas besteiras!
Gilberto Nascimento, esse puto cantor e compositor torrelandense, disse numa bela composição de sua autoria e que infelizmente os ouvidos surdos dos curtidores dos aviões e gaviões e outros ões do forró ainda não ouviram, por isso mesmo perderam o bonde e o avião da história, disse que “o homem nasce, vive e morre só”! O que ele não disse eu acrescento para vocês: “nasce, vive bem e morre, se é que existe uma boa morte, melhor ainda”.
Viver só para os muitos que ainda acham que – esses os doentes de solidão – é “melhor sofrer junto a ser feliz sozinho” não sabem a delícia de fazer cocô com a porta do banheiro aberta, reclamar consigo mesmo – tudo bem! –e no outro dia, arrependido, fazer as pazes sem a necessidade de estar pedindo desculpas a outrem. Ora, melhor sofrer junto a ser feliz sozinho? Só mesmo um idiota e medroso de solidão poderia pensar assim. Eu não!
A verdade é que existem muitas e muitas vantagens para o sujeito que leva a vida só e em comum consigo mesmo (se é que isso possa existir!). E não me peçam para enumerar. Eu disse: existem muitas! Os teus filmes, discos livros e… amigos. As tuas roupas. O teu cabelo. E até se for o caso o teu disco de Reginaldo Rossi. Tudo. Ao chegares em casa irás encontrar tudo como deixaste. Se isso é bom? Botem muito bom nisso!
Viver só é padecer com o juízo… Não. Padecer não seria o caso. Viver só é trabalhar com o juízo… Também não. Viver só é evitar o prejuízo… Taí.! Agora estou mais próximo! Mas, sem muita conversa, viver só é viver o teu – no caso, o meu – doce silêncio sem precisar dividir com outrem – notam como eu gosto de outros poéticos? – um silêncio que é somente seu!
No dia em que eu morrer, libertar-me dessa roupa sem graça de carne e osso e essa alma sempre sorridente em que não acredito, gostaria de ir só para essa chamada de última morada. Não brinquem! A coisa é séria. Iria só e bem acompanhado de mim mesmo. E lá em cima ou em baixo ou no meio, uma vez que ninguém tem certeza mesmo para onde se vai depois de pagar a conta do bar e do açougue, sozinho estarei bem acompanhado!
Mas que viver nesta cidade sozinho é uma boa não tenham dúvidas. Se você estiver acompanhado, faça um teste. Experimente um pouquinho o quanto é bom viver sozinho e depois me diga. Garanto que depois dessa experiência nunca mais você desejará trocar a sua solidão por uma solidão a dois. Ou a de vários amigos!