Sou de Jaguaribe. Todos vocês sabem. Ou quase todos. Luzardo Alves, o chargista/cartunista que acabou de trocar de roupa e se mudar para outra cidade, era também. Não o conheci desde a mais tenra infância. O tempo dele tinha mais tempo. Não conheci desse tempo o Luzardo nem os irmãos Livardo e Leonardo Alves. O tempo. Sempre ele.
Livardo era um compositor popular tão criativo quanto o João do vale. O outro, Leonardo, esse que pouco ou quase nada conheci, era um excelente cantor e compositor tão bom ou melhor que ele. Não sabia. Foi o próprio – Livardo Alves – numa papo/entrevista de quase meio dia quem me confidenciou. Papo/entrevista que será espalhado num futuro “capa dura” sobre o meu bairro/rio Jaguaribe, desde já intitulado “Esse rio que navega em mim…”.
Luzardo Alves. Esse me lembro bem. Um dia me perguntou sobre o “porquê” de nunca ter feito uma matéria com ele. Sobre ele. A pergunta se devia ao fato de escrever alguns textos/matérias sobre o seu irmão mais próximo meu no jornal em que escrevia. Livardo Alves. Tudo bem. Um dia escreverei. Foi a promessa.
No outro dia, assim rapidinho como ele fazia os seus engraçados bonequinhos, todos com traços característicos, mesma família, uma página principal de um Caderno B daqui da Província das Acácias, uma BA, foi escrita sobre o filho de Antonio e Julia.
Tens muitas coisas guardadas do teu tempo em “O Cruzeiro”? Tinha. O Cruzeiro, para que ninguém confunda com o Cruzado ou o Real era “O Cruzeiro” mesmo. Uma revista semanal ilustrada, lançada no Rio de Janeiro, em 1928, editada pelos Diários Associados de Assis Chateaubriand. Tinha. Prometeu trazer-me no outro dia as suas – dele – lembranças “cartunizadas ou chargeadas” (tudo bem, leia-se em cartuns e charges) naquela então famosa revista.
Fui mais explícito do que nunca: só quero ver mesmo aquelas em que as tuas charges e cartuns nela – na revista – responderam presente. Então, assim como prometeu, trouxe-me no outro dia o seu tesouro encadernado em papel capa dura, com a sua característica e famosa assinatura – eu gostava – na folha em branco que abria a sua história.
As lembranças daquela velha e cobiçada e lida revista desfilaram pelas telas dos meus olhos curiosos. Cinema, esportes, saúde, charges, política, moda, culinário, belas mulheres e famosos galãs de Hollywood. Suas vidas e curiosidades. Uma revista feita para agradar a gregos e troianos, se esses ainda morassem por aqui. Vi algumas charges e cartuns seus, isto é, dele. Imaginava a época. Afinal, vocês sabem, as charges são passageiras, assim como as nossas vidas. Os cartuns não, esses são eternos, assim como a arte.
Os traços de Luzardo eram – são – econômicos. Uma economia que se fazia presente no universo do “Grupo de risco” muito antes do supereconômico Henfil. Em três oportunidades estive com esse – Henfil – e desses seus econômicos traços falei. Redi também é econômico. . Nani também. Mas era o Henfil a minha referência de economia em traços no “grupo de risco”.
Bom, por enquanto, vou ficando por aqui. Mais tarde ou à noite, continuarei lembrando esse artista que recebeu, mesmo sabendo pescar, o anzol de Assis Chateaubriand, pescou poucos peixes, mas soube multiplicar o pescado como somente os bons “pescadores de arte” são capazes.
Em tempo. Se tempo ainda vocês tiverem: outro dia. logo cedinho. ele estava no ponto de cem reis. o que restou dele. sabia que eu passaria por lá. passei. fez questão de mostrar: a página do jornal em que este “Malabarista de palavras” espalhou um pouco de sua arte e vida estava emoldurada. feliz. estava. uma bela moldura. vai ficar na minha sala. disse. ficou. ratificou o dito no outro dia. satisfeito? feliz. felizes ficamos.