nas mal-traçadas da quarentena a vida segue nas entrelinhas sem precisar que alguém lhe mostre o caminho!

nas mal-traçadas da quarentena a vida segue nas entrelinhas sem precisar que alguém lhe mostre o caminho!

Hoje, quarta-feira, sem feira-livre no meu bairro Jaguaribe, estou aqui, parado, dentro de casa, na minha ilha cercada da livros e discos e filmes por todos os lados. A quarentena, confesso, me pegou de vez. Estou sorteando os dias. Hoje, por exemplo, vou de conto e conto para vocês.

 Leio Anton Tchekhov, esse bom dramaturgo e escritor russo, e também médico. Contos. Mesmo estando associado, quase sempre, ao teatro, era no conto que ele mandava melhor. Mas, para que não morramos de inveja, por aqui, nesta terra de excelentes escritores, temos o nosso Machado de Assis.humberto vinho

Não se pode falar em contos, sem lembrar o Bruxo do Cosme Velho. E, por falar nele, no Bruxo, passamos outro dia por lá, casa número 18, a Rosa e eu, e nada de marcas deixadas pelo nosso escritor-mor. Aqui morou Machado de Assis. Somos informados.  Nada mais.

Mas, como falava, leio de Tchekhov um conto excelente – ele tem vários! –  intitulado de a “Dama do cachorrinho”. Excelente! Mas não conto. Digo apenas que Tchekhov, assim como o nosso Machado de Assis, tinha como uma de suas marcas o bom humor nas suas histórias.  Tem mais: era também moralizante, como o foi, em alguns, o nosso Machado.  

Mas eu não queria falar “apenas” sobre “os contos” que ando – parado também – lendo nesses dias quarentenados. Sou um sujeito um tanto altruísta, mas não muito. Tudo demais é veneno. Vocês sabem.  Pois bem. Também sobre essa pergunta que me inspirou essas mal-traçadas:  “E aí, 1berto, como estás passando esses dias? “. São perguntas assim que encontro em minha caixa de recados. Simples, respondo, o tempo não pára, mas a gente que não tem tempo de assim ficar, parado, vai passando.  Por enquanto vou vivendo a viva que eu vivo (parece uma aliteração… cacofonia ou eco?) Muito bem.  Sempre a mesma resposta. Ou quase.

Nesses dias de isolamento nada espontâneo, mas também não tão forçado assim, nada tenho a reclamar. Nada mesmo! E não estou dizendo isso apenas pelo fato de “querer” estar bem, como muitos o fazem, levando uma vida que não desejavam.  Estou bem e muito. Fim de papo.

Deixando de lados os filmes, discos e livros, muito, em todos os sentidos, às vezes mesmo incontáveis, necessitando de mais espaço para guardar tanta vida, seria uma blasfêmia não agradecer pelo fato de fora desta ilha em que agora me encontro, na entrada dela, digamos assim, encontrar tudo que preciso para sorrir nesses dias de “prisão” nada espontânea.  Fazer o quê? Agradecer a Deus por essa conquista. Se foi difícil? É difícil. Fim de papo.

melhor não olhar pra trás... não  olho!

melhor não olhar pra trás… não olho!

 De quando em vez, pois tudo demais também é veneno, vocês sabem, considerando que hoje um pouco para este MB é o suficiente, mas fora um pouco mesmo em dias outros, uma ou duas taças de vinho do Porto (eis aí uma bela metonímia!) e uma ou duas doses do melhor dos “cachorros engarrafados”, descem macios como um poema do Mario Quintana, Sérgio de Castro Pinto, Políbio Alves, Hildeberto Barbosa Filho, Linaldo Guedes ou Águia Mendes, que  se aloja bem no fundo das retinas destes olhos curiosos.

Eu reclamar do Bolsonaro?! Peraí, meus amigos, Peraí. Não serei um sujeito resignando.  Nunca!   Não votei nele, inúmeras vezes escrevi/disse isso aqui, mas,  torcer contra,  não irei nunca. Não insistam, por favor. O Supremo? Somente Deus! Esse que está aí, composto de membros sem cabeças e apenas troncos, ainda falta muito. Mas, apesar de tudo, somente para não dizer que neles eu não falei, sem eles, acreditem, pior seria.

Pois é, aqui, entre as coisas de que gosto tanto, entre elas essa que nada de coisa tem, mas gente, a Rosa, gostando mais ainda, se reclamo algumas vezes é pelo barulho que fazem em busca do silêncio, e, quando esse conseguem, gritam que estão morrendo pela falta das palavras que os seus – dele –  ouvidos pedem.  

Releio Machado de Assis, sim. Sempre. E todas às vezes que isso acontece, leio-o como se fosse a primeira vez. O cara escrevia tudo e sobre tudo. Verdade.  Mas, na prosa, era mesmo o cão chupando manga. Não tinha pra ninguém (desculpem-me, sou fã do Graciliano Ramos). Os seus poemas e peças? Bons. Ótimos, porém, são os seus contos e romances que me pegaram na primeira leitura.  Memórias Póstumas e Brás Cubas?   Esse é o cara! Esse é o livro! Mas sigo em frente. 

Um mergulho na piscina, essa sem a água azul da Amaralina em que o Caetano Veloso bebeu (um bairro), mas azul; um beijo numa taça friazinha de doer nos beiços, e um queijo laite, como me fora receitado por um amigo do coração.  Eu reclamar? Não reclamo humberto restounem o fato de todos os dias o som dos pracistas invadir a minha ilha com a poluição sonora de vozes, essas todas iguais, chamando esse  som  de “sertanejo”, quando prefiro  chamar por um nome apenas: lixo.

 E aí? Ora, meus amigos, esse é mais um   preço que pago por tanta coisa boa que me cerca nesta ilha, esse Porto Seguro em que aplaco a vontade de transformar o meu inspirado silêncio em palavras. A quarentena?! Não falei?!  Assim, como queira Deus que este MB esteja, estou imune a ela!

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