Sérgio Sampaio morreu no rio de janeiro em 1984. Mudou-se desta para melhor – se existe mesmo outra nenhuma dúvida tenho de que é melhor do que esta – com apenas 47 anos de idade. Trocou de roupa.
Ouvi muito Sérgio Sampaio na minha juventude. Muito. Sempre gostei de sua voz aguda. Era diferente das muitas vozes agudas que ouvia. Ouvi. Debochado. Sérgio era assim. Sentia muito isso em algumas de suas composições. Um deboche natural. Sem forçar a barra.Sérgio foi ídolo de Raul seixas. Vice e versos. Acredito. Mas encontro mais Raul no Sérgio do que o Sérgio em Raul.
Agora, nesse exato momento, escuto Sérgio Sampaio. Ele era um mestre na capacidade de entrar em todas e de todas sair muito bem. Choro, balada, blues, samba, rock’n roll. Sérgio sabia o que fazia e fazia muito bem o que sabia.
Essa sua “Nem assim“, particularmente, acho arretada! Tudo a ver comigo! Ele brinca de dizer o que o coração – calado – sorrindo gostaria de ter dito. Falado.
Sérgio era antes de tudo um brincalhão cheio de fúria contra tudo isso que eles acham que está correto. Era contra. Assim como sou. Sérgio trazia – continua, deixou – em sua obra uma boa dosagem de modernismo. Sim. Sergio Sampaio era moderno.
Tudo isso para dizer que sou fã de Sérgio Sampaio. Mas não entendam, por favor, nem misturem as coisas. Era fã. Ídolo não. Não tenho ídolos. Todo ele sem S – leia-se sem “exceção” – tem os pés de barro e os respectivos cus cheios de hemorroidas. Nada de ídolos! Nem de barro nem de carne e osso!
Ah, “Nem assim” deixaria de lado essa vontade de ouvir cada vez mais Sérgio Sampaio!
Ouço.
Here come the Sun king!
NEM ASSIM
(Sérgio Sampaio)
Você pode dizer o que quiser de mim que nada do que diga me fará voltar
Pode inventar mentiras e até publicar
Dizer q eu não sirvo mesmo pro amor
Que eu sou um narcisista e um mal compositor
Que se eu morrer agora ninguém vai chorar
Que os vicios da cidade toda estão em mim
enfim, que foi você quem em abandonou,
E por tantas razões que nem dá pra lembrar
E sem contar as vezes em que eu lhe bati
pode botar no rádio e na televisão
Não. . . nem assim
Nem assim. . .
você pode chorar no colo da mamãe
dizer pros seus irmãos o quanto eu fui ruim
Chamar toda a polícia para me prender
Chegar com advogado e ordem do juiz
Pode fazer comício nas praças do rio em nome da dignidade da mulher
Mostrar pra todo mundo as marcas que eu NÃO fiz
provadas no instituto médico legal
Pode botar meu nome no SPC
Dizer que eu não paguei as joias que ‘cê quis
Você pode dizer o que quiser de mim
Nem assim.