VAMOS VIVER! O RESTO ? OH, DARCY!

VAMOS VIVER! O RESTO ? OH, DARCY!

1 – uma boa parte dos leitores brasileiros sabe quem foi o mineiro-imortal Darci Ribeiro. A outra que não sabe não gosta de ler e somente ouviu falar em Darcy Ribeiro, por gostar mais de política, como vice-governador do Rio de Janeiro e Leonel Brizola governador, em 1982, nas primeiras eleições diretas desde o golpe de 1964. Eu gosto dos livros de Darcy Ribeiro.

B – ainda menino, ou quase, li o seu Maíra, lá pelos idos de 1976/77, e confesso que, apesar de cheios de informações, muitas chatas, sobre o Serviço de Proteção dos Índios, outra famosa – inventou muitas – invenção sua, gostei do drama de Avá, um santo índio, seu personagem principal, em busca de sua “indianidade” (arg!).

E – Anos depois, ainda em Jaguaribe, o meu bairro até hoje, li o seu O Mulo, que, se a memória não falha, me fora emprestado pelo Pedro Osmar, o nosso eterno “Guerrilheiro Cultural”. Se a memoria não me falha ainda, pois faz muito tempo que li o referido, o livro trata da luta brutal entre os que tem e os que não tem, ou seja, trocando em miúdos, a classe dominante, lugar ainda comum, explorando a classe dominada.

R – nesta manhã de segunda-feira, essa que tem tudo para ser uma das melhores do ano, mudanças à vista e a prazo, leio “Utopia Selvagem” do Darcy Ribeiro. Encontrei-o por acaso dormindo em páginas fechadas, no cantinho do amontoado de livros que me pedem uma arrumação urgente.

T – não tenho o último livro de Darcy, Migo, lançado em 1988. Tinha. Assim como acontece ainda com alguns dos muitos livros meus, solícito como sempre fui, emprestei o dito cujo para um amigo que não me lembro do nome, e ele, talvez por esquecimento, talvez, não mais o devolveu. Pausa. Lembrei-me agorinha que o João Gilberto tinha a estranha mania – não sei se assim continua – de pedir violão emprestado aos amigos e dá-lo de presente ao primeiro que aparecesse em sua frente.

O – antes de trocar de roupa e se mudar para outra cidade, em fevereiro de 1977, nunca mais me esqueci, Darcy deixou uma bela lição para os muitos que se acham vivos demais e, por isso mesmo, há muito morreram sem saber o que era viver:

“… Termino essa minha vida exausto de viver, mas querendo ainda mais vida, mais amor, mais travessuras. A você que fica aí inútil, vivendo essa vida insossa, só digo: – Coragem! Mais vale errar se arrebentando do preparar-se para nada. O único clamor da vida é por mais vida bem vivida. Essa é, aqui e agora, a nossa parte. Depois seremos matéria cósmica. Apagados minerais. Para sempre mortos”.

Em tempo: disse mais:

“Fracassei em tudo o que tentei na vida.
Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui.
Tentei salvar os índios, não consegui.
Tentei fazer uma universidade séria e fracassei.
Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei.
Mas os fracassos são minhas vitórias.
Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu”

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