A última entrevista de Livardo Alves (I)
Livardo e este Malabarista de palavaras em dia festivo (aniversário)

A última entrevista de Livardo Alves (I)

Quando o final do ano ou uma data festiva se aproximava, minha mãe Dona Chiquinha, essa que virou nome de rua depois que foi morar em outra cidade,  Rua Francisca Bezerra de Almeida, no Conjunto Geisel, nesta Província, costumava dizer. numa expressão que era bem característica sua, que o fim de ano (ou a data festiva) estava na porta.

Hoje, lembrando Dona Chiquinha para lembrar o carnaval e não deixar de lembrar esse que foi a maior referência dessa folia na Província das Acácias, a capital da Parahyba, Livardo Alves da Costa, ou simplesmente Livardo Alves, o autor da antológica Marcha da Cueca (Eu mato/eu mato/quem roubou minha cueca/pra fazer pano de prato), a partir desta, estarei, mais uma vez, Carnaval de 2025 (está próximo), espalhando em nosso singular espaço Plural a última entrevista – mais um gosto papo! – que fiz um dia com o filho de Dona Júlia e Cacheado.  Uma merecida homenagem deste Malabarista de Palavras que o acompanhou por “tantas paradas” e com ele aprendeu que ninguém perde nada sendo um bom sujeito nessa vida. O papo/entrevista se deu no “barzinho das plantas”, como ele chamava um barzinho que ficava no Castelo Branco, próximo a nossa UFPB, no comecinho do ano – o tempo passa… – de 2000.

Em tempo: Livardo Alves trocou de roupa e se mudou para outra cidade aos 66 anos, no dia 16 de março do ano de 2002.

.

1BERTO DE ALMEIDA X LIVARDO ALVES

(Papo/Entrevista)

 

Como não poderia ser diferente, vamos começar pelo começo. Para mim tudo começou com a Marcha da Cueca. Foi isso mesmo?

-Não, Humberto!  A primeira composição, aquele que posso chamar de música, foi “O Buraco do Bombeiro”.

Tenho uma vaga lembrança da música. Canta aí um pouquinho para começar ilustrando a entrevista.

- Bem, antes quero te dizer que O Buraco do Bombeiro é uma composição meio infantil. Foi feita há muitos anos, em Jaguaribe. (canta). “Fazendo passo até o dia clarear/e a negrada mesmo de se esbagaçar/olha o buraco do bombeiro/assim cai dentro/olhe lá até o dia clarear… (para de cantar e comenta a mudança pronominal na letra da música. Admira-se com o uso da segunda pessoa, acrescentando que nada sabia de gramática ou regra de português)… Tu não querias passar o que ele passou/dentro de um buraco por causa do seu amor/ele não pode passar mais de oito dias/deixa isso pra jia/pra jia!” E termina com um sorriso aberto e franco. E depois do Buraco do Bombeiro, o que apareceu?

-Ah, cara! Aí peguei gosto pela coisa!  Depois que vi todo mundo cantando e dançando ao som do Buraco do Bombeiro, um claro sinal de que a coisa era boa, fui em frente!  E aí, logo em seguida, fiz A “Vida é Um Buraco” (canta): “Cheguei à conclusão/ que a vida é um buraco/é um buraco é…/é um buraco/se a gente nasce/É por um buraco/e se respira/é por um buraco…”.

Ficou provado então que depois do Buraco do Bombeiro tu emburacaste. O Buraco foi de que ano?

-Essa eu fiz logo depois do Buraco do Bombeiro. Se a memória não me falha foi no ano de 1966. A Vida é Um Buraco, como todo o meu trabalho, foi uma coisa bem espontânea. Tudo que eu faço é assim: nunca me sento e digo “vou fazer uma música”. Não sei e nunca criei assim. Comigo a coisa flui. Sai da cabeça pronta para ser cantada. (Para, pensa e continua…) Uma coisa interessante essa minha maneira de compor. Estou assim e, de repente, começa a martelar a minha cabeça. Aí eu digo: que coisa doida é essa que está em minha cabeça! Espera aí!  Ah, isso é uma música! E a coisa sai. Simplesmente. É uma música mesmo! Eu digo!”

(continua no próximo capitulo)

Compartilhar...Share on FacebookTweet about this on Twitter

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Required fields are marked *

*


seis − = 3

Você pode usar estas tags e atributos de HTML: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <strike> <strong>