As quatro mães de minha vida

As quatro mães de minha vida

 

Por Anco Márcio – em 14/05/2006 às 00h00

 

Primeiro foi a mãe de meu pai, minha avó Chiquinha, baixinha, mirrada, pobre, viúva, ex-engomadeira, tomou-se de amores por mim, e, diz a lenda, andava o Ingá todinho comigo nos braços quando eu era criança. Eu fui o primeiro neto homem dela e o apego era natural e espontâneo, pois Dinda não tinha nada de artificial.

Ela morava na nossa casa, cuidava da nossa comida e fazia um cozido muito gostoso, e dava e mim, seu neto preferido, gostosas “tiradas das panelas”, retiradas com uma coisa chamada “quengo” que foi substituído pelas conchas de hoje. Quando Dinda morreu, eu que era seu companheiro e neto preferido, tinha ha cerca de dez anos.

Lembro de sua morte num dia de semana, e meu pai, seu filho, saindo triste para providenciar o enterro, Se foi minha avó, deixando suas imagens de pau oco no tosco oratório, um quadro de São Sebastião e outro de Nossa Senhora da Conceição. Morreu dormindo, essa primeira mãe de minha vida.

Depois vem Isaura, minha mãe verdadeira, a que me pariu e me teve de parto natural, aqui em João Pessoa. É meio covarde elogiar as mães,mas Isaura Pereira de Oliveira, a minha, merece todos os elogios, uma vida toda dedicada ao ensino público, ganhando uma ninharia, sempre ganhando pouco e multiplicando esse dinheiro.

Isaura me agüentou nos períodos mais difíceis da minha vida, quando eu estava entregue à bebida e passava dias, por vezes semanas, fora de casa. Ela ia me buscar e sempre me achava e trazia de taxi pra casa e pedia que eu não bebesse mais.Se foi também num dia de semana, minto, morreu num sábado, no final da tarde, de um infarto e hoje descansa no Cemitério de Santa Catarina.

Depois vem Raí, minha mulher, minha ex- mulher, mãe de meus dois filhos, com quem convivi por cerca de dez anos. Eu a conheci no balé do Santa Roza e a pedi em casamento num domingo pela manhã,no pequeno quintal de minha casa.Ela aceitou, casamos e fomos felizes enquanto durou.Se existe algum culpado pela separação, deve ser eu próprio…

Finalmente vem Débora minha filha, mãe solteira aos dezessete anos, que soube enfrentar a barra com fortaleza, decisão e estoicismo, se transformando na maravilhosa mãe que é, e criando como gente grande, meu neto Gabriel. De vez em quando dá um fora, mas no final sempre acerta…Afinal de contas ela e Gabriel são meus dois caçulas, meus dois meninos e meninos sempre se entendem…

São essas as mães próximas de mim e que prezo, Hoje, Dia das Mães, eu só posso dar presente a minha filha, aliás, já dei. Duas das minhas mães, Chiquinha e Isaura, estão mortas e não podem mais receber nada a não ser a paz…Rai vai receber presente dos filhos, e só espero para o ano, ter mais uma mãe para acrescentar na minha lista: a mulher de meu filho.

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