Minha vida de circo, ou, Eu sou um Clown triste

Minha vida de circo, ou, Eu sou um Clown triste

 

Por Anco Márcio – em 19/01/2006 às 04h41

 

Eu sou um clown triste. Que faz rir, que faz chorar.Palhaço.Vivo minha vida na corda bamba, me equilibrando no arame das ilusões e fazendo mágica com as palavras e os sons.Fazendo malabarismo com as letras, com os acentos com os tis, com as interrogações que me perguntam coisas, ou com as exclamações que me causam tanta admiração.

Vivo na lona do Universo como um palhaço sem cara pintada, me equilibrando nas pernas da poesia. Sou uma espécie de domador de palavras, um mágico que tira ilusões de dentro de uma velha cartola sem fundo, que tira coelhos da mente cansada na hora alegre do dormir diário.

Procuro armar minha tenda no coração das mulheres, mas por vezes sou considerado um invasor. Eu hipnotizo as massas com vãs palavras e procuro ler a mão de quem me estende. Vivo à mercê da rede do destino que me ampara nas muitas quedas e faço graça com minha partner para fazer a plateia sorrir.

Nos intervalos do doce espetáculo da vida, eu vendo sorrisos artificiais que são levados à platéia, por anões de casaca ou por bailarinas seminuas, que tiram a roupa para viver bem vestidas, e depois dormem nas tendas com os palhaços da burguesia que infestam a platéia.

Assisto de camarote a vida passar, e me penduro de ponta cabeça no trapézio, para executar um salto mortal que me levará à vida. Dou um salto solto, amarrado numa corda colorida, como colorido é o meu rosto de palhaço que faz rir, que faz chorar, rosto de clown maltratado pelas tintas e luzes.

Equilibro minhas pretas sapatilhas num fio quase invisível que me prende à vida e me amarra ao globo da morte que gira em redor da lua. Sou um mata-cachorros que arma e desarma o próprio circo e cerco meu picadeiro de fogo para evitar a aproximação de leões amestrados e tigres com bengalas.

Sou um engolidor de fogo fátuo e um cuspidor de palavras. A plateia ri de mim, como quem sorri da própria vida. O meu palco está armado em cada mente, meu cenário é o meu próprio corpo maquiado como quem crê e descrê de suas ilusões de ótica e de suas cartas na manga rosa madura.

Hoje tem espetáculo!Tem o grande espetáculo da vida, onde os homens se matam e se mutilam, onde o “gran finale” é logo no começo pra que todo mundo saiba que tudo termina bem quando acaba bem. O povo me segue pelas ruas como seguia ao próprio Cristo que apresentou seu derradeiro show no Calvário.

Eu pinto o rosto para encobrir as rugas, marcas de um tempo que se foi no relógio de pulsações que não tem corda e trabalha com as batidas cansadas do meu cansado coração. Erga-se o pano!!Arme-se o circo!Levantem-se mastros e bandeiras!O grande espetáculo da vida vai começar e só termina com um grande e solene enterro!Não contem seu final pra ninguém.

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