Uns pequenos lembretes aos meus filhos antes que eu me esqueça

Uns pequenos lembretes aos meus filhos antes que eu me esqueça

Por Anco Márcio – em 11/05/2006 às 00h00

Vocês, meu filho e minha filha, começaram a me dar trabalho antes de nascer e eu nunca me queixei. Era um tal de levar a mãe de vocês pro médico, aquela coisa de ver vocês, uma massa informe, na ultrasonografia, comprar medicamentos, e eu nunca tive uma palavra de tristeza, sempre de alegria.

Depois vocês nasceram e eu passei noites sem dormir, somente de alegria, e de vez em quando ia aos seus berços para olhar apenas vocês dormindo, com aquela paz que só às crianças é dada, mas se de repente vocês acordassem chorando no meio da noite, eu acordava também e os ia embalar. E nunca reclamei.

Se vocês encharcavam minhas roupas de urina, eu apenas achava graça, e os ninava, e os trocava, por saber que vocês eram inocentes e não estavam fazendo aquilo por maldade. Eu nunca reclamei se ia trabalhar no dia seguinte com a cabeça tonta por ter passado a noite indormida por causa de vocês…

Quando meu filho, então único, me fez passar o pior natal de minha vida, adoecendo e tendo de ir para o hospital, com soro injetado na cabeça macia, eu não reclamei. Apenas enchi os olhos de lágrimas e fui para a janela do hospital pedir pela sua vida e olhar as pessoas que passavam felizes comemorando o Natal…

Quando veio e menina foi uma festa… Era minha primeira filha que depois veio a se transformar na única, como único é o meu filho…Deu me deu as coisas certas em matéria de filhos, como em quase tudo na vida…Um menino e uma menina, sadios, inteligentes e alegres, embora tão díspares…

Eu ensinei a vocês as primeiras letras, mostrei os primeiros animais, as galinhas, os gatos, os cachorros, fomos na Bica ver leão, macaco, tartaruga, bicho preguiça, de alguns vocês tiveram medo, mas eu sempre disse a vocês que eu era o pai e estava presente para livrá-los de todos os medos. E ainda estou…

Eu ensinei pacientemente a vocês os doces mistérios de andar de bicicleta na praça e pus remédios nos seus machucados, depois de cada tombo. Eu os levei à escola e fiquei com os olhos marejados por ter de deixá-los sozinhos naquele ambiente tão diferente de nossa pequena casa…

Eu acordava à meia noite para ir trabalhar na rádio e conseguir o sustento de vocês e nunca reclamei. Pelo contrário, abençoava ter um trabalho honesto que me permitisse dar o que vocês necessitavam.Quando da separação, eu chorei na casa, agora imensa, por vocês, unicamente por vocês…

Pelo que sei, minha saúde é boa e não vou morrer assim tão cedo. Mas deixo para vocês a herança do amor…Daquele pai, que sempre achou que os filhos nunca erram, somente cometem pequenos deslizes que devem ser perdoados.Quando meu neto chegou, de minha filha, sem pai, fui eu o pai que ele primeiro viu…

Quando meu filho passou no vestibular, eu fiquei emocionado e liguei pra mãe dele contando contente por aquela vitória, por meu menino ir entrar pra faculdade. Eu sempre os perdoei, sempre os perdoarei, por serem vocês meus filhos muito amados, meus eternos meninos e meninas que o mundo me deu…

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