Mas, após relutar por tanto tempo, um primeiro tempo que durou mais do que quarenta e cinco minutos, agora não tem mais jeito: se os muros antes ainda permitiam a liberdade dos nossos olhares, agora só permitirão a passagem da imaginação.
Se estou com medo da violência e por isso farei da minha casa um presídio de segurança máxima? Mais que isso. Estou com medo de sair de dentro de mim e me tonar cá do lado de fora o homem violento que vive dentro de todos nós.
Não adianta posar de sujeito bom que leva uma tapa num lado do rosto e oferece o outro para mais uma tapa levar com um sorriso cortando esse rosto de um lado a outro. . Mentira. Infelizmente a bondade só existe quando ao bondoso ela convém. Somos maus por natureza.
Entraram na minha casa pela madrugada e furtaram um dos meus sonhos. O sonho de que mais ou menos – nem quero nem mais nem menos nunca mais – seguro nós estávamos. O furto foi o mínimo. Mas a sensação de impotência – não medo, não medo – foi a máxima.
Deixou-me com aquela sensação de que fora de mim nunca estaria seguro e o quanto como cidadão cumpridor de meus deveres estou indefesso. Frágil. Incapaz de reagir contra esses fantasmas de carne e osso que nos atacam durante o dia e mais ainda pela madrugada.
A minha casa vai virar um presídio. A minha tristeza maior é saber que um crime só não cometi, mas condenado estou – estamos, a Morena e eu – a viver preso dentro dele/dela. Nada de prisão domiciliar. Pior. Estamos presos mesmo num “presídio caseiro” de segurança máxima. Pausa. Ainda bem que não roubaram o meu Título de Eleitor.