QUEM É OLERÊ E QUEM É OLARÁ

QUEM É OLERÊ E QUEM É OLARÁ

(um texto de J.M.VICTOR)

 

Quando retornei à cidade de Patos para assumir a Gerência Regional da Cagepa, na década de oitenta, a primeira visita oficial que fiz foi ao Bispo Dom Gerardo Pontes. Ao longo do tempo a Igreja Católica Apostólica Romana sempre fez escolha preferencial pelos pobres e necessitados. A nossa conversa é que estaríamos a disposição para ajudá-la nessa missão secular.

Algumas vezes, depois do meu expediente na empresa, passava, no final da tarde, na casa de Dom Gerardo, e era convidado a participar da celebração da Santa Missa na sua capela particular. Foi um tempo muito importante na minha vida, de muita reflexão e de muita fé. Ali na pequena capela, somente os meus pecados, o bispo e Deus. O professor Caleb Balaque dizia que a única coisa que é verdadeiramente nossa são os nossos pecados, aliás é a única coisa que vamos levar para prestar contas.

Gostava muito de Dom Gerardo, sisudo, inteligente e defensor intransigente da Igreja. Nas ordenações, depois dos rituais na Catedral de Nossa Senhora da Guia, ele gostava sempre de dizer aos novos padres:

– Juízo e vergonha na cara!

Na missa dos santos óleos, tempo que reunia todos os padres da diocese, o animador começava assim:

– Seja bem-vindo olerê

Seja bem-vindo oralá

Paz e bem para você

Que veio participar.

No final da celebração, na sacristia, ele sempre perguntava e ninguém respondia:

– Quem é olerê e quem é olará?

Essa observação me levou a identificar os mesmos procedimentos na música popular brasileira. Um bom exemplo é o consagrado samba enredo “Vai passar” de Francis Hime e Chico Buarque de Holanda:

– Ai, que vida boa, olerê

Ai, que vida boa, olará

O estandarte do sanatório geral vai passar.

Pensei como o Bispo:

– Quem é olerê e quem era olará?

Depois do questionamento do bispo, Chico Buarque bem que poderia modificar um pouco o refrão final, escrevendo assim:

– Ai, que vida boa, ô Tetê

– Ai, que vida boa, ô Tatá

O estandarte do sanatório geral vai passar.

E ainda ganharia “ponto” com Tetê Espínola e Tatá Werneck, dizendo que tinha sido uma homenagem as duas grandes artistas.

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