Uma vez um morador conhecido meu da Ilha do Bispo, essa ilha cercada de cimento por todos os lados e praticamente encravada no coração da capital parahybana, fez-me um convite para dar uma olhada na situação dele e família. Falei então que conhecia e sentia o problema. Ele me disse que saber e sentir de longe era pouco. Vamos lá, insistiu, quero que você veja e sinta de perto a situação dos moradores dessa Ilha. Fui.
A família dele, cinco pessoas, duas crianças com pouco mais de três anos, parece de fumantes inveterados. Por quê? Os pulmões cheios até aqui. Se não de nicotina, da poeira que as chaminés que nada de poético tem, como aquelas do Noel Rosa, vomitam a noite inteira.
A noite, ele me diz, a poeira sai mais sem vergonha. Sem vergonha? Ele explica. Ninguém tá vendo. Nessa hora parece que as comportas do mal são abertas em toda a sua maldade. Tenho pena dele. Ele acha que os moradores daquela ilha estão condenados a morrer pelos n narizes sem ter cometido um só crime. Triste.
Faz muitos anos que é assim. Sempre. Mas, como essa empresa contribuem para “desenvolvimento” do Estado e, principalmente, de sua capital, nada se pode fazer. A força da grana a ergueu e ninguém vai conseguir destruí-la. Todos pobres, fazer o quê ? Senti uma pena danada dele. Mas fazer o quê? Quase me ofereci para respirar um pouquinho com ele. Dividir com ele esse mal. Quem sabe não assim não melhoraria sua – dele – respiração e a dos filhos ?