Usando Canudos para beber na história!

Usando Canudos para beber na história!

canudos doisA cena é arretada, e daria também um filme arretado como a cena imaginada. Assim mesmo. Imagino o cenário.  Um tela grande, cinemascope, deserto americano, com direção   de John Ford. Sei que para a cena que imagino, tudo isso é muito pouco. Mas sigamos em frente.

As páginas passam aos pulos. Rápidas. Mas, são tão gostosas as cenas e a forma com que elas são descritas, que o leitor –no caso, este Malabarista de palavras – vai passando as referidas com uma fome de anteontem. É a fome é a fome é a fome.

 Eles, os meus personagens, os heróis da história, são descritos como fanáticos. Os últimos. No resumo, a descrição é sucinta:  um velho, dois adultos e uma criança. Mas é o bastante. O resto? Multidão.  Lugar comum. A última cena fica sob a responsabilidade da imaginação.

Renderam-se? Depuseram as armas e levantaram os braços? E se aconteceu assim, que armas foram essas? Logo após a derrota, essa reconhecida como não foi, que armas usavam esses últimos heróis? Foices? Espingardas que se carregam nos ombros e pelas bocas? Ancinhos?

Imagino a ação. Imaginação.

 Nessa salvamos os heróis e derrotamos os bandidos, ou sucumbiremos com eles. Bandidos e fanáticos.  A separação é fácil. Cômoda. O velho é coxo.  Assim é descrito. Um tiro. Sem dúvidas. Deve ter acontecido naquele deitar aqui, rolar pra aquele lado, atirar ali, levantar e correr. Isso, porém, não significa fugir da luta.  Alguma bala perdida por ele foi encontrada. Perdida, não. Encontrada.

 Com os olhos arregalados, maiores que os do Peter Lorre, um rapaz, adolescente, parece nada entender. Por que tudo aquilo? O que justifica aquelas vinte e cinco mortes por tão pouco?  Pausa. Pouco ?! Os olhos permanecem arregalados, Olhos infantis de bandido? Não. Herói. Os de herói.

 Há um preto também. Esse, mirando o inimigo, usando para isso apenas os olhos, Porém, forças mais não tinha para empunhar a enxada. E, se essa ainda tivesse, era a imagem da vitória. Derrota? Não se achava derrotado. Sentia-se ainda capaz de mudar o curso daquela história.

O caboclo, por sua vez, a dele, é a última peça do quarteto, No seu silêncio, esse “ouvido” por todos, ouvia a própria voz estimulando os colegas e ratificando o desejo de entregar apenas corpo, Pois, conforme o que pregava o seu líder, não se pode derrotar um espírito forjado na certeza de que a verdadeira liberdade está na luta pela sua preservação.

Um velho, dois homens feitos, descrevem outros, e uma criança. Era quatro contra cinco mil soldados. Os dentes armados, baionetas afiadas, fora das bocas. Eram bravos mastins na defesa do almoço de domingo. Não se renderam!  Eram os últimos. E, se caíram, a imagem desses heróis, pés fixos na terra, olhares altivos, continua ainda hoje na parede da memoria de todos que viveram ou souberam da existência de Canudos.

Canudos não se entregou!

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