Eu Plural:
o meu “eu poético” está mais pra millôr fernandes. ou esse eu seria apenas para a prosa ? tu nada de poeta eu tenho. mas o “eu” desse pluralmtodos têm.
faz uns dias que estou mais para esse humorista e pensador-mor. poeta, o campo que não desejo nada tem a ver com os persas. esse está mais para o campinho da vila do motoristas.
a pasárgada minha não dá bandeira. vou-me embora. estou indo aos poucos. não tenho 9pressa. nem mesmo para fazer um poema. nem pela elites senis. pela falta de coerência. o problema é meu e não divido com ninguém. nem com a rainha louca se lúcida ela me aparecesse. vou deixar a pasárgada de bandeira. nem passagem de volta vou comprar. não comprei. o meu eu poético anda doente de mim. por aí. faz tempo que ele se perdeu em nós. vou-me embora e não sei se voltarei um dia. não voltarei. a esperança está com medo. com o medo. vou-me embora. e não existe um talvez eu fique. não fico. a pasárgada de millôr é mais terra. bandeira encontrou a sua no paraíso. não acredito no paraíso. vou-me embora. vou-me embora. a pasárgada de millôr pode até não ser tão feliz quando a de bandeira. mas é real. mais bem humorada. até mesmo mais feliz. – 1berto de almeida
Vou-me embora de Pasárgada
Sou inimigo do rei
Não tenho nada que eu quero
Não tenho e nunca terei
Vou-me embora de Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
A existência é tão dura
As elites tão senis
Que Joana, a louca da Espanha,
Ainda é mais coerente
Do que os donos do país.
A gente só faz ginástica
Nos velhos trens da central
Se quiser comer todo dia
A polícia baixa o pau
E como já estou cansado
Sem esperança num país
Em que tudo nos revolta
Já comprei ida sem volta
Pra outro qualquer lugar
Aqui não quero ficar.
Vou-me embora de Pasárgada.
Pasárgada já não tem nada
Nem mesmo recordação
E nem fome nem doença
Impedem a concepção
Telefone não telefona
A droga é falsificada
E prostitutas aidéticas
Se fingem de namoradas.
E se hoje acordei alegre
Não pensem que eu vou ficar
Nosso presente já era
Nosso futuro já foi.
Dou boiada pra ir embora
Pra ficar só dou um boi
Sou inimigo do rei
Não tenho nada na vida
Não tenho e nunca terei
Vou-me embora de Pasárgada
(Millôr Fernandes. Folha de S. Paulo, março/2001)