Uma Segunda  sem Ressaca Pensando na Resssaca dos Olhos de Capitu

Uma Segunda sem Ressaca Pensando na Resssaca dos Olhos de Capitu

Se essa memória que me traiu várias vezes no meio de um poema do Mário Quintana ou na lembrança de um texto do Guimarães Rosa não me pregar mais uma das suas, a primeira vez que li Dom Casmurro, uma das mais citadas obras de Machado de Assis e com certeza uma das lidas, um “romancezinho” para o recém “viajado” Ariano Suassuna, este escriba era ainda um menino magro, pernas finas e bambas, cabeça cheia de sonhos e os bolsos vazios. Ou melhor: neles, nos bolsos, apenas bolas de gude, pião e baladeira. Ah, e muita infância.

O tempo passou e o menino, muito curioso, janelas dos olhos abertas para o mundo, começou a deixar passar por elas outras histórias daqui e d’alhures cheias de mistérios e descobertas. Mas, o Dom Casmurro, talvez mesmo pela leitura juvenil, continuou fazendo parte do rol de seus livros preferidos. Hoje, todas às vezes que (re) leio Dom Casmurro – eu disse todas!–, acabo sempre descobrindo mais um detalhe na formação de um personagem que a leitura anterior não permitiu.

A história de Dom Casmurro é tão famosa que se não fosse a insistência de um dos meus dois leitores, esse que infelizmente por falta de tempo, preguiça ou de inteligência, sendo que reluto em acreditar nessa última hipótese, ainda não o leu, não iria cansar o outro com uma resenhazinha, para ele, sem nenhum interesse.

Pois bem. Dom Casmurro é uma história contada na primeira pessoa (sempre gostei mais da segunda) em que o contador (Bentinho) usa todos os meios para incutir na cabeça do embriagado leitor – o texto é tão bom que embriaga – que a sua mulher, Capitu, a dos olhos de ressaca, foi-lhe infiel. Simples, não? Bom, é o que parece.

Mas, por que somente agora, depois de um bom tempo da última leitura do romance machadiano, este escriba vem ocupar um espaço tão nobre – gostaram? – com a suas lembranças? Bem, é verdade que o assunto era outro. Mas a lembrança de uma amiga e não leitora de suas – leiam “minhas” – mal-traçadas, como diria o meu velho pai, botou mais lenha na fogueira: “apesar de ler e reler Dom Casmurro, não conseguiu compreender até agora qual o real sentido que o autor quis dar a frase “os olhos de ressaca de Capitu”, escreveu-me ela. E foi além: “Não tenho dúvidas quanto ao significado da frase, mas o da frase “olhos de ressaca”, ligado ao caráter de Capitu”. Foi clara? Foi.

O assunto, como sei que um dos meus dois leitores irá concordar em gênero, número e grau ou vice e versa, é um pé na roda, como diria, achando ser a melhor descrição para uma coisa boa, o meu Zé Lins do Rego. E nele, mesmo que o sujeito não queira, se deixa levar. E vai levando. E, se não tomar cuidado, de tão gostoso que é esse levar acaba se afogando nos olhos de ressaca da Capitu, ou, mais triste ainda, no mesmo mar que tragou Escobar, o melhor amigo do Bentinho.

P.S: volto aos olhos com e, dessa vez, sem a ressaca pós-feriado, ligando esses olhos ao caráter de Capitu.

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