um dia não estarei mais aqui
mas nada de pressa
terei ainda de cortar o cabelo
fazer a barba e dar um sorriso de
despedida
mas para que pressa se
terei a eternidade para chegar?
partirei devagar
sairei naquela alegria
de quem vai tomar um
banho no rio
em que menino mergulhava sem medo
porque conhecia a correnteza de suas
águas e profundidade
não deixarei muitas coisas
um samba canção pela metade
no gravador
com minha voz rouca
cantando o ” menino grande “
do antonio maria
e o filme casablanca à disposição do dedo no “play” da mulher amada
um pouquinho antes
cuidarei dos meus canários belgas
que me anunciam as manhãs de primavera
de todas as estações
regarei a plantação de quiabos
que meu irmão inventou no meu quintal
e lhe pedirei para colher o que plantou
depois de pagar a conta no bar
aposentarei as palavras
o resto será o que me restou
do silêncio
do meu silêncio