e amanhã quando eu não estiver mais aqui para regar a minha plantação de quiabos?

e amanhã quando eu não estiver mais aqui para regar a minha plantação de quiabos?

um dia não estarei mais aqui

mas nada de pressa

terei ainda de cortar o cabelo

fazer a barba e dar um sorriso de

despedida

mas para que pressa se

terei a eternidade para chegar?

partirei devagar

sairei naquela alegria

de quem vai tomar um

banho no rio

em que menino mergulhava sem medo

porque conhecia a correnteza de suas

águas e profundidade

não deixarei muitas coisas

um samba canção pela metade

no gravador

com minha voz rouca

cantando o ” menino grande “

do antonio maria

e o filme casablanca à disposição do dedo no “play” da mulher amada

um pouquinho antes

cuidarei dos meus canários belgas

que me anunciam as manhãs de primavera

de todas as estações

regarei a plantação de quiabos

que meu irmão inventou no meu quintal

e lhe pedirei para colher o que plantou

depois de pagar a conta no bar

aposentarei as palavras

o resto será o que me restou

do silêncio

do meu silêncio

 

Compartilhar...Share on FacebookTweet about this on Twitter

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Required fields are marked *

*


+ sete = 16

Você pode usar estas tags e atributos de HTML: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <strike> <strong>