Vital Farias: “Só não vai (protestar contra o Congresso e o Supremo) quem já morreu!”

Acabo de receber um “convite” do menestrel – acho que ele prefere “cantador” e taperoense Vital Farias, para ir às ruas protestar contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal. No referido, Vital não escreve, mas deixa nas entrelinhas que aqueles que preferirem ficar em casa batendo panelas são filhos de padres de outras que não são as mães legítimas.

Não apresentei o responsável pelo convite, porque Vital Farias não precisa de apresentação. São muitos os que o conhecem e admiram esse cantador. E tem Vital entre os melhores compositores deste verde-amarelo país musical. Estou nesse meio. O convite dele, porém, acredito, passa longe do artista. Não confundo as coisas. Nem ele. A convocação é do cidadão que, como faz questão de dizer no seu convite, não aguenta mais.

O convite de Vital, apesar dessa sua condição de sujeito que está de saco cheio e meio com tudo isso, é hilário, divertido e risível do princípio ao fim. Dia 15, diz ele, só não vai quem já morreu. Pausa. Não morri ainda, mas, com todo respeito ao bom compositor e indignado cidadão, não irei. Indo, todo o respeito ainda, estarei sendo mais um instrumento da alienação coletiva. Falo por mim, por Vital fala ele.

A ida da população às ruas, segundo o bom taperoense, é uma lição para as “otoridades”. Assim mesmo, faz questão de assim escrever: “otoridades”. E acrescenta a essas:” … corruptas em todos os níveis de corrupção e bandidagem oficial”.  Nesse ponto, aqui um período, concordo, segundo Zuza Homem de Melo, com o maior “melodista” deste hoje não tão melodioso país do carnaval.

Vital Farias está decidido a mudar o rumo das coisas ruins que mudam a vida nessa país do faz de conta, indo às ruas no próximo dia 15 de março.  Não vai ficar em casa batendo panelas. Vai às ruas. Sabe que ver tudo e ficar calado nada muda. Mas, por outro lado, esse o sonoro, sabemos nós que ir às ruas e – apenas – gritar, também pouco ou nada mudarão. No final, depois de muitos gritos pela mudança, uns acabarão roucos e outros sem voz.

Vital ainda faria mais, se pegasse a sua viola e colocasse a voz numa canção em defesa desse enganado povo. Não pense, porém, que ele ficou por aí. O cidadão bateu na madeira de sua viola, e pediu que que os comunistas e outros que como esses pensam dele se afastassem naquela forma do “vade retro, satana”.  Não sendo assim, concluiu o autor do clássico “Saga da Amazônia, “os comunistas vão nos empurrar para Venezuela e para Cuba!”.

Lembrei que ainda menino-jaguaribe os mais velhos e menos sabidos diziam que os comunistas comiam criancinhas cruas. Mas comiam no sentido antropofágico, entendam, por favor. Agora, com mais de meio século de estrada, Vital vem nos fazer medo com essa história de que os comunistas são piores que os meninos peraltas do presidente Bolsonaro e outros peraltas petistas que continuam por aí fazendo suas maldades. Meu Deus! Esse não dever ser o “jeito natural” desse excelente cantador.  

Dia 15, assim Vital encerra o seu convite, “Vou eu, minha mãe, meu pai, meus 10 filhos, minha sogra, meu cachorrinho, meu Brasil estampado em meu peito e na minha Cara”.  Sintam. A disposição do artista para mostrar a sua indignação é comovente. Mais que isso é contagiosa.  Uma espécie de vírus que bota o Corona de joelhos. Sorrio. Se não bastasse, no apagar das luzes, Vital faz questão de puxar a cordinha da descarga: “VÃO ROUBAR O CÃO! CHEGA”!  

Tudo em maiúsculas.

 Se vou às ruas? Não mudo: Não irei. Mas não ficarei em casa batendo panelas.

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Um comentário

  1. É uma pena que um grande artista como Vital tenha se deixado manipular ao ponto de defender o chamado de um bando de milicianos que pretende colocar fogo no país. Claro que o congresso brasileiro, assim como o STF está anos luz distantes dos ideais democráticos de uma república respeitável, mas a que se presta esse convite? Qualquer pessoa de bom senso sabe que o rumo final dessa história é a ditadura. Será que faz tanto tempo assim para esquecemos do AI5, dos tempos de tortura, mortes, ausência de liberdade, até para fazer protestos como este que ele está apoiando. Se não aguenta mais, eu também não, se quer protestar, por que não se põe, antes de qualquer coisa, em defesa de milhões de aposentados assaltados por esse governo, contra destruição do ensino, em defesa dos negros, mulheres, indios, comunidade LGBT, de tanta gente oprimida no Brasil. Vital é um dos maiores artistas que esse país já produziu e sempre me pareceu um cidadão iluminado. Me explique, quem puder, como alguém que escreveu uma das paginas mais importantes do cancioneiro brasileiro, tal como A Saga da Amazônia, se coloca ao lado do chamado de um governo que pretende destrui-la, arrasar com nossa fauna, flora, toda comunidade indígena. Meus Deus? “Corre índio, seringueiro, preguiça, tamanduá…” Não vou para as ruas nem tão pouco vou bater panelas no meu apartamento, aliás, na última vez que a elite brasileira, bateu panelas nos seus apartamentos de luxo e foram às ruas vestindo verde e amarelo, acabaram elevando so posto mais alto do país o vampiro traidor e em seguida o atual governo, com certeza devem estar muito felizes com os resultados desastrosos. Repito: “Corre índio, seringueiro, preguiça, tamanduá”. Já cantei muito essa música nos bares da vida, não cantarei mais…

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