Depois do caso passado, Pelé x Aranha, senti que Pelé não iria continuar “poeta” por muito tempo. Pelé não suporta poesia. Embora calado, seja um poeta. Foi o que vaticinou um “baixinho” que fala muito e, por isso mesmo, muito besteira costuma dizer. Um baixinho que, faminto de poder, não tem papas na língua.
Hoje Pelé quer ser o Caetano Veloso de Ontem. O baiano compositor de “Terra”, uma de suas melhores obras, passou um tempo sem poder segurar a língua. A propósito, no dia em que Pele pendurou a chuteira, nesse mesmo dia escrevi que teria feito muito melhor se a língua tivesse pendurado também.
Pelé, o “rei do futebol” criado pelo Edson Arantes do Nascimento, uma “Obra de Deus”, assim costuma ao Pelé se referir, nunca foi de falar a respeito da deplorável situação em que uma maioria negra vive no País do Futebol. Ora, o negro que tem dinheiro, assim como ele e outros poucos, frequenta os mesmos lugares de brancos que dinheiro tenham também. Nada de preconceito. Tudo apenas questão econômica.
No ano passado, deixando a sua condição de “poeta calado”, Pelé saiu em “defesa” do goleiro do seu ex-time, Aranha, um negro, que foi chamado descaradamente de Macaco e o mundo sorriu ou criticou. A imagem do Aranha pedindo “Pelo amor de Deus!” que os câmeras – muitos relutaram – flagrassem aquele grito de “MA-CA-CO” escandido pela mocinha que se defendeu dizendo apenas “ora, eu não estava sozinha”.
Pelé, em sua defesa, isto é, na “defesa” da raça e do futebol, esse em especial, disse que “Se eu fosse querer parar o jogo cada dez que me chamasse de macaco ou de crioulo, todos os jogos iriam parar”.
Surpresa! Eu juro que não sabia que o Pelé preferiu continuar “poeta” por todos esses anos que passou sendo agredido, discriminado, violentado, no silêncio total, tudo em nome do futebol verde-amarelo. Aranha bem que poderia fazer de contar que o “ma-ca-co” gritado não foi com ele.
Pelé nunca achou nada demais ser chamado de macaco. Era rico, ficava cada vez mais rico jogando futebol e não seriam os gritos de uma plebe rude e ignara comparando-o a um macaco – crioulo era o mínimo -, que iriam impedir a sua ascensão social e financeira como jogador de futebol, como o rei do futebol.
Ora, pensou – raro, muito raro Pelé pensar, aprendeu apenas contar o vil metal- enquanto calculava o rendimento de sua “caderneta de poupança”, isso passa em branco. E passou. Pelé, por sua vez, isto é, pela vez dele, se não passou em branco também, negro, uma realidade difícil para ele aceitar, fez mais escuro a sua história.
Pelé me dá nojo…